Reunindo produções dirigidas por realizadores negros, a mostra No futuro há espaço para coisas que a gente nem imaginou, do forumdoc.bh – festival do filme documentário e etnográfico de Belo Horizonte, propõe imaginar, investigar e inventar novos gestos para que o porvir não seja o passado ou o presente repetidos. Contando com narrativas inesperadas e livres, a curadoria fica a cargo dos cineastas André Novais Oliveira e Daniel Ribeiro Duarte, a partir de um olhar que identifica em cada uma o desejo de reivindicar um novo futuro.

A mostra estreia na Itaú Cultural play em 2 de setembro e traz seis novos filmes para a plataforma. Cadastre-se gratuitamente e assista.

Mostra No futuro há espaço para coisas que a gente nem imaginou

Entre nós e o mundo, de Fábio Rodrigo (2019)

[classificação indicativa: 10 anos]

Diferentes personagens narram a trágica história de um adolescente morto numa abordagem policial. O rapaz era filho de Erika, moradora da Vila Ede, bairro periférico da capital paulista. Grávida e mãe de outro garoto, Erika continua morando no lugar, vivendo entre o medo e a dor, mas também entre a solidariedade e o desejo de seguir em frente.

Lançado na Mostra de cinema de Tiradentes, o filme é um retrato sensível e profundamente pessoal do drama enfrentado por famílias negras vítimas da violência do Estado. O efeito comovente e mobilizador que a narrativa produz entre nós se concretiza por meio de uma montagem sóbria, que combina fotos, arquivos pessoais e cenas de intimidade.

Entre nós e o mundo, de Fábio Rodrigo (2019) (imagem: divulgação)

Fartura, de Yasmin Thayná (2019)

[livre para todos os públicos]

Fartura é um filme-ensaio construído a partir de fotos pessoais, filmagens domésticas e depoimentos de parentes da própria realizadora, construindo uma poderosa narrativa a respeito de memória, culinária, coletividade e negritude. Uma reflexão sobre as diferentes formas de imaginar o tempo é o ponto de partida para uma belíssima evocação do modo de vida comunitária e dos hábitos que a comida estabelece entre famílias negras da periferia carioca. Mais do que um espaço ou gesto trivial, a cozinha e o cozinhar são também atos religiosos e de luta.

Fartura, de Yasmin Thayná (2019) (imagem: divulgação)

Pattaki, de Everlane Moraes (2019)

[classificação indicativa: 10 anos]

Peixes agonizam à beira-mar. Uma mulher idosa toma água, um homem cimenta uma parede e outra senhora recolhe baldes de uma torneira. É noite de Lua cheia, a maré sobe e a chuva cai torrencialmente, tomando a cidade. A água está por todos os lados. É Iemanjá, deusa do mar, que inunda e encanta a todos.

Indicado ao prêmio de Melhor Curta no Festival de Sundance, nos Estados Unidos, o filme foi realizado na Escuela Internacional de Cine y TV, em Cuba, celeiro de grandes cineastas. Para criar o ambiente fantástico da história, a diretora utiliza-se de sons desconcertantes e ângulos de câmera inusitados.

Pattaki, de Everlane Moraes (2019) (imagem: divulgação)

República, de Grace Passô (2020)

[classificação indicativa: 10 anos]

Pandemia de covid-19, Brasil, 2020. Uma mulher dorme quando seu telefone celular toca. Recém-desperta, ela recebe uma má notícia impactante. Ela se desespera, grita pela janela e liga para sua mãe. A mensagem que passa é inusitada: autoridades científicas afirmam que o Brasil é um sonho.

Produção independente dirigida por uma das principais vozes do audiovisual brasileiro hoje, a atriz, cineasta e dramaturga Grace Passô. Uma câmera na mão, um telefone e um ator em cena são os meios usados para a realizadora criar uma sequência de grande intensidade dramática, cheia de sentidos políticos.

República, de Grace Passô (2020) (imagem: divulgação)

Quantos eram pra tá?, de Vinícius Silva (2018)

[classificação indicativa: 12 anos]

O filme acompanha o cotidiano de três jovens estudantes da Universidade de São Paulo (USP). Eles fazem parte da primeira geração de alunos negros que ingressam no ensino universitário público pelo sistema de cotas. Dramas, questões familiares e opiniões críticas sobre o mundo e a condição do negro no país surgem do encontro entre eles.

Prêmio de Melhor Filme no festival 15º panorama internacional coisa de cinema, na Bahia, o curta é hábil em misturar documentário e ficção. Sem definir claramente onde cada um começa ou termina, o roteiro embaralha propositadamente essas noções, criando uma narrativa própria e original, em que o real e o ficcional são uma coisa só.

Quantos eram pra tá?, de Vinícius Silva (2018) (imagem: divulgação)

NoirBLUE – deslocamentos de uma dança, de Ana Pi (2018)

[livre para todos os públicos]

Neste filme, a cineasta, bailarina e coreógrafa Ana Pi viaja à África Subsaariana e, a partir de um encontro com suas raízes, compõe um interessante experimento cênico rico de sentidos simbólicos, em que o tradicional se mistura ao contemporâneo e evoca temas como ancestralidade, pertencimento e negritude.

O curta-metragem é um filme-performance que balança as fronteiras entre o documentário e a ficção. O livre trânsito entre as duas linguagens é o ponto de partida para uma coreografia que se desdobra por diferentes paisagens e cenários, entrelaçando memórias e reflexões.

NoirBLUE – deslocamentos de uma dança, de Ana Pi (2018) (imagem: divulgação)
Veja também