Hoje, 25 de janeiro, a cidade de São Paulo comemora 469 anos de sua fundação. Para celebrar o aniversário da metrópole, separamos algumas das obras disponíveis na Itaú Cultural Play que abordam a capital paulista como cenário-personagem.

Aniversário de São Paulo | A cidade como cenário-personagem

1. Cidade improvisada, de Alice Riff (2012)
Documentário | 19 min

[classificação indicativa: 10 anos]

Parte essencial da cultura do rap, as batalhas de MCs são um intenso exercício criativo, em que o desafio é improvisar letras a partir de uma batida. Neste filme, 16 MCs brasileiros, entre homens e mulheres, aliam suas habilidades poéticas e criativas para cantar sobre a cidade, suas quebradas e seus dramas.

No embalo do ritmo e das rimas, o curta desenha uma breve história do rap e uma pequena poética do ato de improvisar versos. Alegre, pulsante e didático na medida certa, também captura a íntima relação entre o gênero musical e as duras realidades urbanas. Participação de Thaíde, Max B.O., Rapadura e Kamau, entre outros nomes.

Um homem aparece caminhando sobre a proteção lateral de um viaduto, enquanto a cidade de São Paulo ganha o destaque da imagem.
Cidade improvisada (2011) (imagem: Fábio Riff e Paula Esteves)

2. O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla (1968)
Policial | 92 min

[classificação indicativa: 16 anos]

A voz de dois interlocutores radiofônicos anuncia o noticiário policial. Embrenhadas nas ruas da Boca do Lixo, o Quadrilátero do Pecado, autoridades empenham-se na captura do Bandido da Luz Vermelha, um marginal bárbaro e temido pelas famílias de bem. Enquanto isso, Luz narra a sua história no crime e reflete sobre a existência.

“Quem tiver de sapato não sobra, não pode sobrar.” Uma das frases mais famosas do cinema brasileiro, proferida pela personagem de Paulo Villaça, o bandido, define o espírito deste filme-soma, ou faroeste do Terceiro Mundo, nas palavras de seu realizador. Em seu primeiro longa, Sganzerla redefiniu o caminho do cinema moderno no Brasil.

Foto preto e branca mostra mulher de biquíni e chapéu apontando um revólver para a frente. Um homem de sunga está sentado no chão, ao lado da mulher. Atrás deles há um carro conversível estacionado.
O bandido da luz vermelha, filme de Rogério Sganzerla (imagem: divulgação)

3. Um céu de estrelas, de Tata Amaral (1996)
Suspense | 71 min

[classificação indicativa: 16 anos]

Dalva é cabeleireira e mora na Mooca, tradicional bairro fabril da capital paulista. Ela está prestes a embarcar para Miami e se livrar da vida que leva. Numa manhã, Dalva é surpreendida pela visita de Vítor, seu ex-namorado, um tipo duvidoso. Aos poucos, o flerte e o jogo amoroso entre os dois se transformam numa arrebatadora espiral de violência.

Um dos marcos do cinema brasileiro dos anos 1990, o filme de Tata Amaral surge como um gesto de explosão num momento de paralisia cultural. A obra se passa num único cenário e se apoia na direção precisa, numa dramaturgia pulsante e na brilhante performance de seu elenco. Grande vencedor do Festival de Brasília, o filme circulou pelos festivais de Berlim, Roterdã e Toronto.

Frame do filme Um céu de estrelas. Na imagem, a câmera foca nos rostos de um homem e uma mulher enquanto eles olham por uma janela.
Um céu de estrelas (1996) (imagem: divulgação)

4. Cidade oculta, de Chico Botelho (1986)
Policial | 80 min

[classificação indicativa: 16 anos]

Preso por porte de drogas, o marginal Anjo sai da prisão e reencontra um antigo comparsa, hoje chefe de uma gangue. Por intermédio dele, Anjo conhece Shirley Sombra, bandida e estrela de shows noturnos. Enquanto eles se envolvem amorosamente, Ratão, um policial corrupto, vai no encalço de Anjo para um acerto de contas.

Estrelado pelo músico Arrigo Barnabé e pela atriz Carla Camurati, Cidade oculta é um marco do cinema paulista dos anos 1980. Representante de uma nova tendência que eclodiu na capital paulista nessa década, chamada Neon-Realismo, o filme se apropria da cultura pop, dos quadrinhos e do filme policial norte-americano, com olhar autoral e ambição criativa.

Frame do filme Cidade Oculta. A imagem retrata a atriz Carla Camurati interpretando a personagem Shirley Sombra. A personagem é uma mulher branca, de cabelos pretos e veste sutiã preto, luvas longas pretas e batom vermelho.
Frame do filme Cidade Oculta (1986) (imagem: divulgação)

5. À meia-noite levarei sua alma, de José Mojica Marins (1964)
Terror | 81 min

[classificação indicativa: 16 anos]

Na expectativa de gerar um filho perfeito, Zé do Caixão não hesita em assassinar as mulheres e os homens que involuntariamente impedem a concretização de seu desejo. Uma cigana, contudo, prediz o terrível castigo que o vitimará. Descrente, ele segue fazendo vítimas e desafiando os demônios a buscar sua alma.

Bárbaro, o filme de José Mojica Marins inaugura o Cinema Fantástico no Brasil e apresenta ao público a personagem de Zé do Caixão, um doentio e cruel agente funerário. Para satisfazer seu desejo, o coveiro iconoclasta avacalha a tudo e a todos, das crenças religiosas aos mais profundos valores morais.

Frame do filme À meia-noite levarei sua alma. A imagem, em preto e branco mostra José Mojica Marins interpretando o personagem Zé do Caixão. Ele veste camisa, blazer e cartola preta e há uma mata ao fundo.
À meia-noite levarei sua alma (1964) (imagem: divulgação)

6. O dia de Jerusa, de Viviane Ferreira (2013)
Drama | 20 min

[classificação indicativa: 12 anos]

Uma jovem pesquisadora negra aplica questionários para uma marca de sabão. Na busca por candidatos às entrevistas, ela é recebida por Jerusa, uma senhora moradora de um antigo sobrado. O que seria apenas uma conversa trivial vai se transformando numa troca de afetos, dores e memórias entre gerações.

Entre os vários méritos do curta, a atuação dos atores é algo a se destacar. Léa Garcia surge luminosa no papel de uma senhora inundada de lembranças que perturbam o cotidiano. Esse é o ponto de partida para uma discussão que envolve temas como escravidão, memória e representatividade negra.

Imagem do curta-metragem O dia de Jerusa. A imagem mostra uma mulher negra, andando na rua. Ela aparenta ter por volta de 60 anos de idade, está com uma bolsa no ombro direito e com a cabeça levemente inclinada para baixo.
O dia de Jerusa (imagem: divulgação)

7. São Paulo, a sinfonia da metrópole, de Adalberto Kemeny e Rodolpho Rex Lustig (1929)
Documentário | 90 min

[classificação indicativa: 10 anos]

A manhã desperta a cidade. Passantes e bondes tomam conta das ruas, num ritmo cada vez mais intenso. À medida que as horas avançam, a capital paulista vai ganhando contornos – trabalhadores, edifícios, o café e o casario da gente abastada vão compondo a partitura de uma cidade que caminha a passos largos para a modernidade.

Inspirado na forma musical da sinfonia, o filme recorre a uma montagem de cortes rápidos, que molda o elogio à riqueza da capital paulista nos finais da década de 1920. Sequências do cotidiano nas ruas se combinam com a celebração de vários aspectos da metrópole, como suas instituições, seus automóveis e arranha-céus.

Imagem em preto e branco do filme São Paulo - sinfonia da metrópole. Na imagem é possível ver prédios ao fundo e um caminhão trafegando pela rua, e em sua lateral está escrito Leite.
São Paulo - Sinfonia da metrópole (1929) (imagem: divulgação)

8. Anjos da noite, de Wilson Barros (1987)
Drama | 98 min

[classificação indicativa: 16 anos]

Diferentes personagens, entre elas uma empresária com negócios escusos, um diretor de teatro, um garoto de programa e uma diva decadente, convivem durante uma madrugada em São Paulo. Errantes, suas trajetórias se conectam entre inferninhos e ruas luminosas de neon, em meio a sonhos, crimes e orgias.

Wilson Barros é um dos nomes mais importantes do cinema paulista, autor de uma obra original que marcou um novo momento da produção em São Paulo nos anos 1980. Verdade e mentira se misturam nesta história noturna, que coloca o espectador em dúvida sobre o que está vendo, como num lúdico jogo de espelhos.

Zezé Motta mostra as palmas das mãos. Ela olha diretamente para a câmera e veste uma blusa vermelha. O fundo da imagem é preto.
Anjos da noite (1987), de Wilson Barros (imagem: divulgação)

9. A felicidade delas, de Carol Rodrigues (2018)
Drama | 14 min

[classificação indicativa: 12 anos]

Na Avenida Paulista, coração do capitalismo latino-americano, duas mulheres se encontram. É noite de 8 de março, Dia Internacional das Mulheres. Elas se manifestam coletivamente pelo direito de existir, mas o ato é repreendido pela polícia. Entre sirenes e balas de borracha, as mulheres se refugiam num local abandonado.

Carregada de tensão, a narrativa do curta explode através do encontro amoroso entre duas mulheres negras. A edição é habilidosa no trabalho com os sons de uma cidade conflagrada, sobre a qual pairam os barulhos ameaçadores de um helicóptero. Por outro lado, a fotografia retira do contraste entre a luz e a escuridão uma expressividade poética arrebatadora.

Frame do filme A felicidade delas. Na imagem, um close das mãos unidas de duas mulheres. A imagem tem uma coloração azulada e é possível ver o quadril de uma das mulheres. Ela veste shorts jeans.
Frame do filme A felicidade delas (2018) (imagem: divulgação)

10. Uma rua chamada Triumpho 69/70, de Ozualdo Candeias (1971)
Documentário | 12 min

[livre para todos os públicos]

A Rua do Triumpho, no centro da capital paulista, é um marco para a história do cinema em São Paulo. Foi de suas ruas, seus bares, neons e trabalhadores que nasceu um dos mais importantes núcleos de produção cinematográfica do país, conhecido como a Boca. Este curta descreve sua paisagem e retrata seus diferentes personagens, entre diretores, distribuidores, técnicos e exibidores.

Uma sucessão ininterrupta de fotografias tiradas por Ozualdo Candeias descobre alguns dos rostos que passam pela Triumpho – Jofre Soares, Anselmo Duarte, Luiz Sérgio Person, Aurora Duarte e Roberto Santos, entre tantos outros artistas e produtores. O curta é uma carinhosa homenagem a um momento criativo do cinema brasileiro.

Frame em preto e branco do filme Uma rua chamada Triumpho 69/70. Na imagem é possível ver diversas pessoas conversando em uma via pública
Cena do filme Uma rua chamada Triumpho 69/70 (1970) (imagem: divulgação)

11. Uma rua chamada Triumpho 70/71, de Ozualdo Candeias (1971)
Documentário | 12 min

[classificação indicativa: 12 anos]

Em seu segundo curta-metragem dedicado à comunidade da Boca do Lixo, Candeias descreve a Rua do Triumpho como um centro de distribuição de latas de filmes para todo o Brasil, dada a sua proximidade com a Estação da Luz. Também apresenta novos artistas e faz pequenas ironias à situação do cinema brasileiro nos anos 1970.

O filme segue o mesmo arranjo narrativo do primeiro: a edição de fotografias tiradas por Candeias e a trilha sonora do violonista nordestino Vidal França se combinam com a voz do locutor que identifica as personagens da Boca, como num minialmanaque de nomes e funções profissionais.

Frame em preto e branco do filme Uma rua chamada Triumpho 70/71. Na imagem, um homem carrega um carrinho de mão cheio de tonéis de metal por uma rua. Atrás dele, outro homem carrega um carrinho de mão.
Cena do filme Uma rua chamada Triumpho 70/71 (1971) (imagem: divulgação)

12. Amante muito louca, de Denoy de Oliveira (1973)
Comédia | 97 min

[classificação indicativa: 14 anos]

Amâncio trabalha como gerente de câmbio e é um homem bem-sucedido. Casado, tem dois filhos jovens e vive um relacionamento paralelo com Brigite, uma vedete do teatro de revista. Nas férias de sua família numa praia em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, a amante resolve se unir a eles e o inesperado acontece.

Longa-metragem de estreia de Denoy de Oliveira, esta premiada comédia de costumes sobre a classe média brasileira dos anos 1970 faz sátiras ao machismo e à hipocrisia dos valores tradicionais. O riso e a crítica social são os grandes atrativos do filme, que foi alvo da censura no seu ano de lançamento. Participação especial de Jô Soares.

Imagem da atriz Tereza Rachel no filme Amante muito louca (1973)
Pôster do filme Amante muito louca (1973) (imagem: divulgação)