Espaço Olavo Setubal
Ocupando dois andares do Itaú Cultural, em São Paulo, SP, em um total de 514 metros quadrados, o Espaço Olavo Setubal foi inaugurado em dezembro de 2014. A exposição permanente reúne obras de duas coleções específicas do maior acervo de arte de uma companhia privada da América Latina: Brasiliana Itaú e Itaú Numismática.
Organizado pela equipe do Itaú Cultural, em uma longa pesquisa que começou em 2009, o percurso revela cinco séculos da história do Brasil, com o objetivo de dividir com o maior número de pessoas esse importante acervo.
Parte das duas coleções está intercalada no espaço, de acordo com o período histórico. São nove módulos, cada um com um tema, reunindo 1.312 obras.
Da Brasiliana Itaú o público poderá ver 947 itens, entre pinturas (12), tridimensionais (18), desenhos, aquarelas e têmperas (30), gravuras (673), mapas/cartografia (16), manuscritos de literatura (7), documentos (71), periódicos (5), livros (98) e caricaturas (16) e 1 vídeo.
Já da coleção Itaú Numismática o Espaço Olavo Setubal apresenta 365 peças, entre moedas (281), medalhas (63), condecorações (10), barras de ouro (6) e objetos (2).
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Espaço Olavo Setúbal
terça a sábado 11h às 20h
domingo e feriados 11h às 19h
Itaú Cultural - Avenida Paulista, 149
Pisos 4 e 5
[livre para todos os públicos]
A Coleção Brasiliana – Espaço Olavo Setubal apresenta moedas e medalhas do acervo Itaú Cultural dispostas sob a perspectiva primeira da arte aliada à tecnologia. Nesse sentido, a iconografia prevalece em relação a outras possibilidades de leitura que esses pequeninos objetos podem sugerir.
De um total de 6.919 peças existentes, 420 exemplares dos mais diferentes materiais – como ouro, prata, cobre e até mesmo madeira – foram escolhidos para ser expostos. Entre moedas, medalhas, pesos, ensaios, condecorações e tantos outros objetos ligados ao universo monetário, o visitante irá se deparar com as mais belas e mais raras peças da numismática brasileira.
Dos primeiros tempos, destacamos a conhecida como O Português, prestigiosa moeda de D. Manuel, o Venturoso, que certamente esteve entre as que Cabral levava em seus cofres quando chegou ao Brasil; os raríssimos florins, importantes testemunhos da presença holandesa no Brasil; e os famosos dobrões, de D. João V, as maiores e mais pesadas moedas de ouro já produzidas pelo homem, que evidenciam toda a riqueza e a opulência que o Brasil viveu.
Medalhas retratando significativas construções, personagens e as belas paisagens do Rio de Janeiro do século XIX, então capital de nosso país, e outras com variados carimbos, como o Carimbo Piratini, sendo produzidas nas mais diversas províncias, ressaltam e enaltecem a força e a pluralidade brasileiras.
Podemos dizer que no módulo Brasil Império as moedas e as medalhas dão o tom. Entre as inúmeras moedas, medalhas e condecorações de D. João, D. Pedro I e D. Pedro II expostas, chamamos a atenção para as macutas de cobre, produzidas no Brasil para circular em Angola. As fracionadas balastracas confeccionadas durante a Guerra do Paraguai. A famosa condecoração imperial Ordem da Rosa criada pelo imperador D. Pedro I para perpetuar a memória de seu matrimônio, em segundas núpcias, com Dona Amélia. E finalmente a mais importante moeda da coleção e a mais valiosa de toda a numismática brasileira: a Peça da Coroação, proibida de entrar em circulação por D. Pedro I por apresentar erros inaceitáveis para o imperador. Hoje, estão espalhados pelo mundo apenas 16 exemplares dela.
Fomos acostumados a ler e ouvir que as moedas contam a história do Brasil. Nesta mostra procuramos ir além, compondo um harmonioso diálogo entre moedas, obras de arte e tecnologia, o que resultou em uma exposição singular, um dos mais instigantes desafios por nós enfrentados.
Vagner Carvalheiro Porto
curador
Esta é uma exposição de arte. A arte produzida no Brasil ou sobre o Brasil, por artistas brasileiros ou estrangeiros, inspirados pelos temas do nosso país.
Um espaço intimamente ligado à história nacional, que segue o desenrolar de cinco séculos. A cronologia é importante, mas são as imagens que predominam, sejam elas impressas, desenhadas, gravadas, aquareladas ou pintadas a óleo. O papel é o principal suporte das obras, mas convive com telas, esculturas e objetos de natureza diversa, entre os quais se destacam as moedas que circularam no país.
Não é, no entanto, uma mostra de história, apesar de ela ser evocada por toda parte. É a exposição das imagens e dos objetos deixados por muitos dos maiores protagonistas da arte no Brasil desde o descobrimento.
Da população nativa encontrada por Cabral, não sobreviveram artefatos, apenas gravuras de índios imaginados pelos europeus. Dos primeiros pintores europeus trazidos ao Novo Mundo por Maurício de Nassau, Frans Post e Albert Eckhout, há obras originais e gravuras com base em seus desenhos. O período seguinte – em que o país permanece oculto pelo governo português por 150 anos, até a chegada de D. João VI – revela artistas, quase todos anônimos, com uma notável exceção, o maior de todos, Aleijadinho, de quem há uma obra importante. É a época de grandes moedas, que refletem a prosperidade levada a Portugal pelo ouro de Minas Gerais, e também o tempo dos escritos dos poetas inconfidentes, heróis de um período em que Minas Gerais está no centro da atenção da metrópole.
Com a chegada da corte portuguesa, em 1808, inauguram-se oito décadas com três monarcas: D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II.
O país é então invadido por artistas e cientistas viajantes, ávidos por descobrir os principais aspectos, registrar informações e levar imagens para a Europa. A exposição exibe as obras extraordinárias desses artistas. Os chamados “pintores viajantes” deixam óleos, desenhos e gravuras que demonstram qualidades excepcionais, que esta mostra procura evidenciar, tanto quanto os temas que escolheram.
É também um momento de protagonismo da capital, o Rio de Janeiro, ponto de chegada dos visitantes, que não deixam de se encantar com sua beleza e a retratam de todas as formas. A imensa produção de imagens e panoramas da cidade entre 1810 e 1850 está particularmente bem ilustrada, além de muitas outras imagens, pouco ou nunca antes exibidas. Novamente, o talento dos artistas viajantes impõe-se no tratamento da grandiosidade do tema e define o foco da exposição.
Poucos pintores estrangeiros deixam a capital para retratar as províncias, mas alguns ampliam nelas o legado visual que o espaço reúne. Durante o império, a produção ditada pelas demandas da corte não perde sua força pelo fato de ser encomendada, e a criatividade dos artistas se exerce plenamente, ainda que com temas impostos.
Em todo caso, muito além da determinação imperial, o tema que a realidade impõe acima de todos os outros é a escravidão, observada no dia a dia por estrangeiros e brasileiros. Depois do canibalismo, nos primeiros séculos, nenhuma outra questão ficou mais associada à imagem do Brasil no século XIX do que a exploração forçada dos africanos, que teve no país um fim tão absurdamente tardio.
Muitos dos artistas viajantes de maior talento, como Rugendas, Debret, Chamberlain e Frond, dedicam-se a retratar o lado cruel (e ocasionalmente alegre) da vida dos cativos, como mostram as dezenas de gravuras da exposição, que exibe ainda uma seleção de documentos da atividade econômica intensa que representou a escravidão.
Chega-se à última sala, constituída de peças em maior parte do século XX, na qual é dada ênfase à criatividade dos artistas e dos ilustradores aliados à literatura, que encontram inspiração na obra dos maiores escritores.
Assim, mostramos plenamente a obra pouco exibida dos principais artistas documentais do Brasil e, nessa última sala, abrimos espaço para a criação literária e para os registros documentais que revivem os principais contextos em que se desenvolveu o trabalho dos artistas: papéis oficiais no século XIX e grandes textos impressos no século XX, quando amadurece a literatura brasileira, na trilha de Machado de Assis.
A formação da coleção por Olavo Setubal respondeu à procura constante por peças significativas que ajudassem a ilustrar o Brasil, mas a preocupação primeira da curadoria foi ressaltar o talento de muitos artistas menos lembrados. Eles merecem fazer parte do cânone, ainda por elaborar, da rica arte brasileira anterior aos últimos cem anos. Ainda pouco estudada, a massa de imagens e textos que esta coleção levanta, com tantas peças inéditas, permite uma nova reflexão completa sobre o aporte dos primeiros séculos de nossa arte. Isso contribuirá sem dúvida para projetar outra luz sobre muitas das indagações atuais da arte contemporânea e enriquecer também nossa compreensão do Brasil.
Pedro Corrêa do Lago
curador