por Cassiano Viana

Lou Sky tem 26 anos, nasceu na ilha de Vitória, no Espírito Santo. Em 2006, aos 12 anos, foi morar em Madrid, na Espanha. Hoje mora em Vila Velha, cidade próxima à capital capixaba.

"Eu estudava em um colégio de freiras extremamente rígido e tradicional. Era submetida a sete horas diárias de um extenso volume de informações, recebidas de forma eminentemente passiva, e encontrava pouco ou nenhum espaço para expressar os muitos questionamentos que tinha", lembra. 

Para Lou, a experiência em um ambiente escolar religioso foi fundamental para fazer surgir a necessidade de buscar formas de se exprimir e impulsionar o desenvolvimento de seu trabalho artístico.

Fotografia de Lou Sky. 

"Na fotografia, pude encontrar linhas de fuga que me permitissem me assumir como sujeito autônomo, descolada do padrão normativo e mortificante que a escola e a igreja impunham", explica. "Eu era adolescente e, como a maioria das pessoas da minha idade, fazia fotografias de mim mesma para saber como era o meu corpo, minha aparência. Eu tirava essas fotos com certa frequência. Até que, um dia, resolvi mostrar meu corpo de uma maneira diferente da que estava acostumada", recorda a artista. 

Logo teve a ideia de se fotografar dentro do armário. Depois, começou a mudar os móveis de lugar e integrá-los à composição. "Percebi que não tinha a intenção de exibir meu corpo nas redes sociais como as pessoas da minha idade costumavam fazer. Alguma coisa soava diferente. Eu estava me expressando. A pessoa da fotografia já não era eu, e sim uma personagem."

A partir desse dia, começou a produzir autorretratos periodicamente. "O meu corpo e a fotografia foram meios que encontrei de me expressar silenciosamente em contextos de repressão", define Lou. "A fotografia é uma forma de encontrar liberdade para o meu corpo, muitas vezes uma maneira de catarse e de digestão da realidade. Por meio dela, os sentimentos provocados pelas minhas vivências no cotidiano são organizados, digeridos e representados num mundo palpável", completa.

Com a palavra, Lou Sky:

Em 2018, em uma aula na faculdade de artes visuais, foi projetada uma foto: uma sala de aula com uma mesa de professor e uma fita crepe colada ao lado, em que estava escrito "não ultrapassar". Uma mesa grande e a cadeira acolchoada do professor colocada em um lugar de visibilidade, em contraste com as mesas e as cadeiras pequenas dos alunos, postas em fileiras como um rebanho, todos iguais e igualmente sem voz.

A partir dessa imagem, passei a pensar sobre como as relações de poder se expressam por meio da organização dos espaços e na relação com o olhar do outro, sobre como as relações de dominante e dominado se apresentam em diversos contextos: professor e aluno, médico e paciente, fotógrafo e modelo, trabalho de arte e espectador etc. Essas questões refletiram-se em minha produção na série de fotografias Linha Indissolúvel do Poder

A câmera é como uma arma e a única coisa que a pessoa pode fazer é escolher a pose. Normalmente, fotografo o meu corpo. No entanto, nesta série, experimentei fotografar outra pessoa. Eu componho as imagens, fotografo e edito. Sinto-me em um lugar de controle e poder. Nessas fotos, cuspo e piso vidros em um corpo masculino.

Estas imagens fazem parte de uma série de fotografias produzidas durante o isolamento social provocado pela pandemia de covid-19. No começo da quarentena, estava pensando sobre como o Wi-Fi era o que nos conectava naquele momento. Seria uma conexão fraca? Surgiu, então, o desejo de investigar e expressar a relação entre os nossos vínculos afetivos e o distanciamento, a volatilidade e a incerteza que caracterizam o atual contexto. Intencionei falar sobre como o isolamento e a relação que estabelecemos com as redes sociais estavam e estão influenciando a nossa maneira de nos comunicar e conectar uns aos outros.

Cassiano Viana é editor do site About Light.

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