Novos nomes da fotografia no Brasil – Michel de Oliveira – Tobias Barreto, Sergipe
05/01/2021 - 14:17
por Cassiano Viana
Michel de Oliveira nasceu em Tobias Barreto, em Sergipe, em 1988. Hoje vive na capital do estado, Aracaju. “Minha primeira experiência com fotografia foi com uma velha câmera analógica que ganhei quando visitei meu pai em São Paulo. Eu tinha uns 8 anos”, conta. “Todas as fotos deram errado e minha mãe não tinha dinheiro para comprar um filme novo, então cresci achando que fotografia era algo muito frustrante e distante da minha realidade econômica. E de fato é.”
Entre essas primeiras fotos que “deram errado” estava o retrato de uma prima de Michel. “A imagem não existe mais nem na minha memória”, diz ele. “Mas me lembro da primeira fotografia que fiz e que me fez pensar: 'Talvez eu possa ser fotógrafo'. Foi o registro de duas crianças negras na feira do Rosa Elze, bairro de periferia ao lado da Universidade Federal de Sergipe, onde morei durante a graduação.”
A foto foi feita com uma câmera digital emprestada. “Ali eu entendi que a principal ferramenta para fotografar seria minha formação interior, porque a resolução da câmera era péssima”, brinca.
Com a palavra, Michel de Oliveira:
Sou motivado pela ação intuitiva do processo criativo e pelas potencialidades estéticas e materiais da imagem fotográfica. Criador fora dos circuitos hegemônicos, tenho interesse pela produção vernacular e artesanal; pelas discussões sobre mestiçagem, hibridização, conceito de arte e lugar do artista. Meu interesse na fotografia orbita na confluência dos temas: morte, memória, saudade, perecibilidade, precariedade, corpo, gênero e identidade.
A obra Réquiem para Meus 30 Anos nasce da percepção da minha própria perecibilidade. Imprimi o autorretrato que fiz quando completei 30 anos em uma placa de porcelana para lápides.
A série Antíteses surge da justaposição de fotografias produzidas em períodos distintos e que se contrapõem de alguma forma. Além do paradoxo dos pares, as imagens criam outros sentidos dentro do próprio conjunto, estimulando várias possibilidades interpretativas.
Já a série Domesticado apresenta inquietações sobre masculinidade, corpo e espaço. Produzida durante o distanciamento social provocado pela pandemia de covid-19, ilustra as tentativas de encaixe desse corpo pouco domesticado nos cômodos da casa.
Refluxo, por sua vez, é uma catalogação daquilo que o mar regurgita, colocando para fora as coisas indigestas, como a morte e os detritos deixados pelos humanos.
Cassiano Viana é editor do site About Light.