Qual é a história da sua maior saudade?
Ter estudado em uma das melhores escolas de música do mundo. Quando o reitor da Universidade Federal da Bahia [UFBA], Edgard Santos, na década de 1950, convidou o maestro alemão Hans Joachim Koellreutter para fundar a Escola de Música da UFBA, ele mudou a vida cultural da Bahia. Nós tivemos um grupo de professores que eram uma verdadeira instalação da chamada Escola de Viena, que desde o começo da música clássica é referência universal.
O que você mais quer agora?
A coisa pela qual estou lutando até hoje para fazer é o disco da minha vida. O Euclides da Cunha tem aquela famosa frase que resume tudo, “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”, mas ele também observou que o nordestino tinha aquela coisa de mentalizar e conversar sobre todo o seu entorno, de colocá-lo em canções e versos – é a cultura do trovador e do improvisador. Eu sou filho de gente de lá, e herdei tudo isso.
Como você imagina o amanhã?
A minha principal preocupação é trabalhar para tentar fazer aquilo que acho que preciso fazer. Não penso em futuro nenhum. Como ainda não fiz o disco da minha vida, aquele bom mesmo para dizer "Agora posso me aposentar", estou até hoje, com 83 anos, lutando. Sempre que tenho cem ideias, mas só consigo registrar 40% ou 50% delas em um disco, fico excitado para fazer o próximo e tentar tirar do papel as ideias que Deus me dá.
Quem é Tom Zé?
A primeira coisa que me vem à cabeça é a criança tentando criar as primeiras músicas em uma gaita de boca. Eu descobri que aquela gaitinha tinha uma escala maior, porque eu podia tocar "Asa Branca" assoprando e puxando o ar. Tom Zé é um pouco disto: o precário. Lembro-me que, depois do tropicalismo, fiquei como um zero à esquerda. Se não fosse por David Byrne, eu não estaria aqui. Eu teria largado a música. Então sou essa pessoa que, por acaso, foi salva por um músico norte-americano maluco que, quando estava no Brasil, entrou em uma casa de discos e conheceu meu trabalho.
Saiba mais sobre o artista na Enciclopédia Itaú Cultural.
Um Certo Alguém
Em Um Certo Alguém, coluna mantida pela redação do Itaú Cultural (IC), artistas e agentes de diferentes áreas de expressão são convidados a compartilhar pensamentos e desejos sobre tempos passados, presentes e futuros.
Os textos dos entrevistados são autorais e não refletem as opiniões institucionais.