Por André Bernardo

Você já imaginou viver em um mundo sem carro, ônibus, trem, avião ou qualquer outro meio de transporte? Um mundo onde as pessoas, para se locomoverem de casa para o trabalho e vice-versa, precisam apenas do teletransporte? A arquiteta Gabriela Bilá transformou essa curiosa premissa, que mais parece tema de série de ficção científica, em seu trabalho de conclusão do curso de arquitetura e urbanismo na Universidade de Brasília (UnB). “Teleport City – a Arte como Veículo do Tempo é um projeto que levanta uma série de hipóteses sobre o que aconteceria no mundo com o advento do teletransporte como meio de locomoção em massa, instantâneo e ilimitado”, conceitua a arquiteta, que agora conta com o apoio do programa Rumos Itaú Cultural para desenvolver o seu trabalho, uma exposição composta de cinco instalações.

Telepo

Programa Rumos_Prototipo do Teleport City1

Protótipos das instalações que compõem o projeto | Fotos: Gabriela Bilá
Protótipos das instalações que compõem o projeto | Fotos: Gabriela Bilá

Nesse cenário futurista imaginado por Gabriela, os cidadãos não precisariam mais sair de casa, ir às ruas e chamar a condução para chegar ao seu local de destino. A locomoção seria feita por meio de pods – uma espécie de cabine telefônica na qual a pessoa entra e, em fração de segundos, é transportada para outro bairro, outra cidade ou, quem sabe, até outro país. Neste caso, os viajantes precisariam de um passaporte que assegurasse que eles estão, por exemplo, com as vacinas em dia. Até mesmo dentro de casa, da sala para o quarto ou da cozinha para o banheiro, seria possível se teletransportar. Para tanto, apenas aparelhos portáteis chamados telepads seriam necessários.

Gabriela pensou em tudo. Se o indivíduo quiser se teletransportar para uma área privada, como um banco ou uma joalheria, poderia fazê-lo com o uso de senhas. Se quiser se locomover de um lugar quente, como o Rio de Janeiro em pleno verão, para uma região fria, como Nova York durante o inverno, suas roupas deveriam se adequar a essa demanda.

O projeto da arquiteta foi elaborado sobre quatro eixos: o turismo, a transformação das cidades, a criação de produtos para adaptação à nova realidade e o surgimento de síndromes psicológicas que poderia haver com tamanha revolução tecnológica.

O futuro já chegou

As cinco instalações que compõem o trabalho são: Painel Digital, Choque Cultural, Mundo Mosaico, Cidade Instante e Sala Telepórtica, que vai simular a cabine de teletransporte. Pelo menos duas delas têm um volume grande de detalhes e sistemas eletrônicos integrados. Mundo Mosaico é uma mesa de 5 metros com maquetes de trechos de 36 cidades; os prédios são feitos de madeira e cada maquete possui um vídeo mapeado. Cidade Instante apresenta desenhos gravados em chapas de acrílico, todos iluminados por um sistema de LED que acende e apaga de forma randômica. “Prototipei as instalações para definir as tecnologias dos sistemas eletrônicos e os detalhes das peças a fim de garantir o funcionamento das obras”, descreve Gabriela.

Por meio dessas cinco instalações, Teleport City explora inúmeras possibilidades. Por exemplo: que novos produtos seriam úteis para nos ajudar em um mundo sem os meios de transporte convencionais? Quais síndromes poderiam surgir com a possibilidade de locomoção instantânea? O que fazer com as ruas obsoletas, já que o carro não seria mais necessário? “O advento dessa nova tecnologia será capaz de transformar radicalmente aspectos cotidianos de nossa vida. As vias públicas, por exemplo. O que fazer com elas? Uma hipótese é ocupá-las com mais prédios. Devido à aglomeração das construções urbanas, as cidades ficariam mais densas. Outra possibilidade é transformá-las em rios”, especula a arquiteta. Segundo ela, a previsão é que as instalações principais estejam prontas em agosto.

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