Por André Bernardo
O que o conto gótico “A Máscara da Morte Rubra”, escrito por Edgar Allan Poe em 1842, e o filme Feitiço do Tempo, comédia romântica dirigida por Harold Ramis em 1993, podem ter em comum? Aparentemente nada, certo? Errado: para a designer gráfica e ilustradora Michelle Santos Costa, de 27 anos, as duas obras têm tudo a ver. Tanto que ela resolveu mesclar essas e outras referências no jogo Echo.
Um dos projetos selecionados pelo programa Rumos Itaú Cultural 2015-2016, Echo tem início quando o jogador aceita o convite de um ilustre psiquiatra, o Dr. Bacamarte, para comemorar a chegada do ano-novo em um baile de máscaras em sua suntuosa mansão. Sim, isso mesmo: o sobrenome do anfitrião faz referência a um dos mais famosos contos de Machado de Assis, “O Alienista”, de 1882.
A dez minutos da meia-noite, todos os convidados se reúnem no salão de festas para fazer a contagem regressiva. Quando o relógio termina de soar a décima segunda badalada, no entanto, algo inesperado acontece: em vez de comemorar a chegada do ano-novo, o jogador volta no tempo, regressando ao exato momento em que entrou no salão de festas.
E aí, o que fazer? Como escapar desse loop? O que fazer para o tempo voltar a transcorrer normalmente? “Sempre tive afinidade com jogos de aventura focados em drama. Gosto do segmento que discute problemas do mundo real por meio de uma narrativa de fantasia”, explica Michelle, que tem experiência nas áreas de design gráfico, ilustração editorial e concept art para jogos e animações.
Para conceber e produzir o trabalho, Michelle uniu forças com a Funbites Game Mechanics, um grupo independente de desenvolvedores de jogos eletrônicos. E, no caldeirão multicultural elaborado por eles, entraram referências que vão dos escritores britânico William Shakespeare e argentino Jorge Luís Borges aos filósofos alemão Friedrich Nietzsche e polonês Zygmunt Bauman.
“Os desafios a ser enfrentados, tanto técnicos quanto conceituais, são muitos. O maior deles talvez seja desenvolver uma narrativa 3D que aborde temas como viagem no tempo e múltiplos universos”, conta Michelle. “Para descobrir o que está causando o loop temporal, o jogador vai precisar desvendar alguns dos enigmas da mansão do Dr. Bacamarte”, dá a pista.
No momento, Michelle está às voltas com a pré-produção de Echo. Entre outras tarefas, está programando as principais funcionalidades do jogo, escrevendo os diálogos interativos e desenvolvendo parte da trilha sonora da obra. “Depois dessa fase vamos montar um protótipo e dar início aos primeiros testes. Se tudo der certo, o projeto deverá estar pronto até meados de 2018”, prevê ela.