Por Julia Alves

Nos últimos anos, o direito ao acesso à educação virou pauta do debate público graças à movimentação de estudantes secundaristas da rede pública contra o fechamento de suas escolas. A campanha “Não Fechem Minha Escola” acendeu as discussões em torno desse tema na sociedade civil e teve grande adesão nas redes sociais – seu perfil no Facebook soma mais de 200 mil seguidores. Atualmente, o debate é sobre o projeto de lei Escola sem Partido, que visa ao combate à “doutrinação política e ideológica em sala de aula” e é “contra o abuso da liberdade de ensinar”.

Nesse contexto, um dado alarmante segue pouco discutido: oito escolas públicas rurais são fechadas por dia – 32.500 entre 2003 e 2013, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Foi a partir dessa realidade que nasceu o projeto Expedição Catástrofe: por uma Arqueologia da Ignorância, que conta com o apoio do programa Rumos Itaú Cultural.

Formado por artistas, urbanistas e designers, o grupo que elaborou a iniciativa se lançou em viagens pelos estados brasileiros mais afetados pelo fechamento de escolas – Minas Gerais, Goiás e Bahia –, registrando histórias e memórias desses espaços abandonados, que juntos são entendidos como um “vasto parque arqueológico da educação e dos territórios rurais do Brasil”. Cacá Fonseca, Felipe Britto, Glayson Arcanjo e Pedro Britto foram para Goiás; Ícaro Lira, Laura Castro e Yuri Firmeza partiram para o sul da Bahia; e Alexandre Campos, Pablo Lobato e Renata Marquez seguiram para Minas.

Ruínas de uma escola rural em Goiás | foto: Expedição Catástrofe/divulgação
Ruínas de uma escola rural em Goiás | foto: Expedição Catástrofe/divulgação

 

O nome do projeto alude, ironicamente, à obra Arqueologia do Saber, contribuição fundamental de Michel Foucault para a discussão em torno da filosofia epistemológica contemporânea. Mas, se o autor francês procura elaborar um pensamento filosófico para solidificar as bases investigativas da ciência e, consequentemente, os processos que embasam o saber, a arqueologia defendida pela Expedição Catástrofe é outra: mapear, registrar e revelar os processos de negação da vida rural e do acesso à educação nesse meio.

Qual é a diferença entre uma escola no campo e uma escola do campo? Como o modelo agropecuário brasileiro contribui para o fechamento dessas escolas? Essas são algumas das questões provocadas pelo projeto. A partir da abordagem plural de seus colaboradores – nos registros e nos relatos das expedições cabem fotografias, vídeos, ilustrações, colagens, objetos, instalações, versos, prosas etc. –, a pesquisa dará origem a uma exposição e a um livro, a ser distribuído em diversas escolas.

Para acompanhar o andamento da Expedição Catástrofe, o público pode acessar o site do projeto.

Veja também

Rumos 2015-2016: Brasis

Exatos 156 anos separam duas travessias pelos rincões do Ceará. A mais antiga, iniciada em 1859, levou dois anos e cinco meses para ser...

Contar histórias para educar

Zenaide Paludo se tornou contadora de histórias sem querer. “Foi lá em Curitiba”, ela conta. “Durante a faculdade, uma amiga perguntou se...