por Zema Ribeiro

 

“E o disco?” deve ter sido a pergunta mais ouvida por integrantes do Regional Tira-Teima durante seus aproximadamente 40 anos de trajetória. É o mais longevo grupamento de choro em atividade no Maranhão, apesar da formação ter variado no decorrer do tempo. Uma prova disso é a pergunta ter sido feita a praticamente todos os seus integrantes, quando entrevistados para a série Chorografia do Maranhão, realizada ao longo de mais de dois anos e contabilizando 54 instrumentistas do gênero nascidos ou radicados no estado.

Da esquerda para a direita: Sérgio Habibe, Paulo Trabulsi, Ubiratan Sousa, Chico Saldanha, Rodrigo Croce, Chico Maranhão, Ronald Pinheiro, Valdelino Cécio, Zezé Alves, Antonio Vieira e Vanilson Lima 

Gente do Choro parece encerrar a questão. A pergunta, com o tempo, será outra: “E o disco novo?”. O Regional Tira-Teima foi agraciado em 2015 com a Medalha do Mérito Legislativo João do Vale (Resolução Legislativa 747/2014), da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, por iniciativa do deputado estadual Bira do Pindaré (PSB), reconhecimento aos anos de devoção do grupo, e dos que por ele passaram, ao gênero de mestres como Pixinguinha, Waldir Azevedo, Jacob do Bandolim, Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga.

A grande rotatividade entre os integrantes do Tira-Teima – é possível que nos shows de lançamento do disco a formação já não seja a mesma que o gravou – significa apenas que o grupo se comporta como uma grande roda, acolhedora, na qual fica quem se sente à vontade, e uma grande escola aberta, por onde já passaram nomes do quilate de Cesar Teixeira, Chico Saldanha, Antonio Vieira e Sérgio Habibe, compositores de talento indiscutível, além de, entre outros, Arlindo Carvalho e Ubiratan Sousa. Este, autor do choro que dá nome ao grupo (não gravado neste disco de estreia), assina os arranjos de “Companheiro” (Francisco Solano e Paulo Trabulsi), “Apelo” (de autoria desconhecida) e da faixa-título (Paulo Trabulsi).

A primeira vez que o Regional Tira-Teima apareceu nos créditos de um disco foi em 1978, quando o grupo acompanhou Chico Maranhão no antológico Lances de Agora, gravado por Marcus Pereira em quatro dias na sacristia da Igreja do Desterro, em São Luís (MA), e lançado por sua gravadora. Paulo Trabulsi, que na época tinha 17 anos, é o único remanescente da formação original.

Para a capa de Gente do Choro, Milton Lozano atualizou o monumento dos pescadores, que enfeita uma praia da capital maranhense, colocando-lhes instrumentos musicais nas mãos, como se representassem Luiz Jr. (violão de sete cordas), Zé Carlos (percussão e voz), Serra de Almeida (flauta), Paulo Trabulsi (cavaquinho centro e violão), Zeca do Cavaco (cavaquinho solo e voz) e Francisco Solano (violão de sete cordas).

Mantendo o jeito Tira-Teima de ser, do disco participam ainda Gordo Elinaldo (cavaquinho centro, violões de seis e sete cordas e arranjos), Henrique Brasil (percussão), Wendell Salles (bandolim), Bastico (contrabaixo), Fernando Machado (clarinete), Karol (trombone), João Neto (flauta), João Pedro Borges (violão de seis cordas e arranjo em “Simples como Serra”, valsa de sua autoria e homenagem ao flautista do grupo), Paulino Brasil (surdo) e o saudoso Léo Capiba (voz em “Pra Ser Feliz” e “Zona do Agrião”, faixas de sua autoria).

Cerca de dez anos depois de Choros Maranhenses, do Instrumental Pixinguinha, primeiro disco lançado no Maranhão inteiramente dedicado ao gênero, é a vez de o Tira-Teima estrear em disco, (quase) completamente autoral – as músicas não assinadas por membros do regional têm participação de seus autores – e inteiramente inédito. Não é exagerada nem inverídica a afirmação em trecho de texto no encarte: “A trajetória do choro no Maranhão confunde-se com a própria história do Regional Tira-Teima”. Alguém duvida?

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