Por Itamar Dantas

A Casa do Congado de Mogi das Cruzes (SP) promove, desde 2009, um trabalho de divulgação e difusão de nove grupos dedicados às tradições das congadas, das marujadas e dos moçambiques. Em Mogi das Cruzes há oito desses grupos ligados à instituição: Congada de Santa Ifigênia, Congada Marujada de Nossa Senhora do Rosário, Congada Batalhão de Nossa Senhora Aparecida, Congada de São Benedito de César de Souza, Congada de São Benedito do Santo Ângelo, Congada do Divino Espírito Santo, Moçambique Capela Santa Cruz e Moçambique Jardim Santos Dumont I.

Selecionado pelo Rumos Itaú Cultural 2015-2016, o projeto da Casa do Congado realiza a gravação de oito discos com cantos e orações desses grupos, além da produção do documentário Congado de Vila de Santana – a Reza Nossa de Cada Um. Também parte do trabalho, está em produção um livro que conta um pouco da história desses grupos tradicionais da região.

O documentário trata das contradições na aceitação das crenças de matrizes africanas pela igreja católica e pela comunidade. Por exemplo, a congada é parte integrante da festa católica do Divino Espírito Santo na cidade de Mogi das Cruzes, mas os participantes dessa dança não podiam, até 2015, entrar na igreja trajados com as vestes de suas manifestações ancestrais.

Wendel da Silva Miranda, produtor da Casa do Congado, explica os caminhos que o documentário procura percorrer para contar sua história. “Até 2015, nas festas tradicionais, o congadeiro não podia acessar a igreja. Começaram a tentar minar a extensão do congado nas festas. A maioria tem essa festa como a mais importante”, conta. “No ano seguinte, definiram que não poderia ter toque de congada, só ia andar na rua, não podia tocar nem cantar. Os grupos transgrediram, não cumpriram esse acordo, e a partir daí o diálogo com a igreja mudou.”

Parte das tradições da igreja católica pelo menos desde 1936 – quando Mário de Andrade e Claude Lévi-Strauss registraram a participação da congada nas festas religiosas católicas –, a ligação entre esses grupos e a igreja foi se perdendo com o passar dos anos. Atualmente, participantes das tradições da congada e do moçambique chegam a esconder seu envolvimento em crenças como o candomblé por medo de algum tipo de represália.

Muitos congadeiros saíram de Minas Gerais para São Paulo nos anos 1950 em busca de oportunidades de emprego. O documentário também coloca em contato familiares praticantes dessas tradições nos dois estados e que não se conheciam desde a migração das famílias para São Paulo.

O livreto abordará tópicos da pesquisa Mapeamento e Resgate de Aspectos da Cultura Tradicional de Comunidades Afrodescendentes de Mogi das Cruzes, material desenvolvido em uma parceria entre a Casa do Congado e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), utilizado no processo de reconhecimento da congada como manifestação da cultura brasileira. Ainda como parte do livro, serão registradas fotos artísticas que retratam os grupos em atividade.

 

Veja também