por Amanda Rigamonti

 

O encarceramento feminino e a vulnerabilidade do corpo da mulher encarcerada são o mote do projeto Ocupação Rés – Mulheres em Cárceres, selecionado pelo Rumos Itaú Cultural 2017-2018. Para debater essas questões, a Corpórea Companhia de Corpos realizou uma série de ações, entre elas rodas de conversa, mesas, performances de artistas negras e apresentações do espetáculo de dança RÉS.

(imagem: divulgação)

RÉS propõe uma análise artística e poética através da dança sobre as estatísticas que envolvem o sistema de encarceramento em massa no Brasil. No espetáculo, três corpos femininos e negros compartilham as diversas possibilidades de reflexão e denúncia de um aspecto social que está sempre à margem das discussões. “Propõe-se uma análise de gênero, raça e classe social, e questiona-se como adolescentes e mulheres negras vivem e respondem às múltiplas formas de violência às quais são submetidas, além de a obra tratar do crescimento vertiginoso desse grupo no sistema prisional”, comentam Willian Simplício e Verônica Santos, da Corpórea.

Eles contam, ainda, que a proposta é evidenciar o protagonismo do corpo negro nas estruturas sociais. “Nesse processo de historicizar os nossos corpos a partir da trajetória dos outros corpos, sentimos a necessidade de contextualizar as nossas referências estéticas, poéticas e políticas entrelaçadas nesse corpo que se faz urgente e indispensável. Partindo de questões e reflexões sociais que desempenham o papel do corpo negro na cena, os fundadores estabelecem a proposição de uma pesquisa que objetiva não somente criar, mas também resgatar suas ações, produções, memórias e trajetórias no percurso de suas contemporaneidades.”

Todas as ações do projeto colocam em discussão os cárceres velados em que as mulheres negras vivem socialmente, reunindo trabalhos de diversas “artivistas”, que têm como premissa ações artísticas disparadas por questões sociopolíticas. A Ocupação RÉS traz a mulher negra como protagonista de todas as ações e conta com a participação de mais de 30 profissionais, direta ou indiretamente envolvidas.

A fim de compartilhar suas práticas corporais com outros corpos e suas urgências, a Corpórea Companhia de Corpos vem realizando na Escola Livre de Teatro de Santo André dois núcleos de pesquisa continuada, intitulados Do Corpo Diariamente Encarcerado e a Urgência pelo Movimento. Conduzidos por Verônica e Willian, os encontros propõem uma troca de experiências individuais a fim de pensar os efeitos que elas causam em cada um, para que assim os indivíduos sejam protagonistas do cotidiano das próprias histórias.

“Para uma população que ao crescer entende que o lugar de seus corpos, depois da escravidão, são as valas, os camburões, o crime, as penitenciárias e a morte ainda na juventude… só nos resta a conscientização. Todos os corpos negros no Brasil estão sujeitos ao encarceramento ou à morte por uma arma do Estado, e nesse sentido o aprendizado talvez seja denunciar através da nossa arte. É importante denunciar para nós mesmos os lugares que querem que os nossos corpos ocupem na sociedade brasileira, lugar que nunca é o do protagonismo que um corpo branco ocupa”, concluem Verônica e Willian.

Veja também