Série Acessibilidade na Área Cultural | Viviane Sarraf (Museus Acessíveis)
02/06/2017 - 13:27
O Observatório Itaú Cultural conversou com Viviane Sarraf, fundadora da empresa de consultoria Museus Acessíveis. Esta é a terceira conversa sobre esse tema, e nela Viviane comenta o processo de idealização da instituição, além de analisar as mudanças que observou ao longo desses anos de atuação.
A série Acessibilidade na Área Cultural tem o objetivo de dialogar com personagens que se dedicam ao desafio de dar fim às barreiras físicas e comportamentais que afastam significativa parcela da população brasileira da produção cultural nacional.
Viviane Sarraf é graduada em educação artística [Fundação Armando Alvares Penteado (Faap)], especialista em museologia [Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP)], mestre em ciência da informação [Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP], doutora em comunicação e semiótica [Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)] e pós-doutora em museologia [Programa de Pós-Graduação Interunidades em Museologia (PPGMUS), da USP]. Fundadora da empresa de consultoria Museus Acessíveis, organizou em novembro de 2008 o Encontro Regional de Acessibilidade em Museus, em parceria com a Fundação Dorina Nowill para Cegos e com o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), projeto pioneiro no Brasil. Tem experiência nas áreas de acessibilidade, museologia, gestão cultural, curadoria e comunicação.
Viviane Sarraf (Foto: Divulgação)
Como foi o processo de concepção e idealização do Museus Acessíveis?
Fundei a empresa em 2006, tendo como meta oferecer soluções (consultorias e serviços) para ampliar a oferta de projetos e ações de acessibilidade em museus, exposições, projetos culturais e de educação patrimonial, com agilidade e viabilidade financeira.
Descreva a atuação do Museus Acessíveis.
A empresa desenvolve projetos, produtos e serviços para viabilizar projetos culturais, exposições, ambientes de museus e espaços culturais e ações de educação e difusão cultural adequados à promoção de acessibilidade de pessoas com deficiência, mobilidade reduzida, idosos, crianças pequenas e novos públicos. Por exemplo, para que uma exposição seja acessível às pessoas com deficiência visual, desenvolvemos audiodescrição, materiais de mediação sensoriais, sinalização tátil e design de expografia acessível.
Maquete Museu Histórico Abílio Barreto (Foto: Divulgação)
Vocês carregam na identidade da instituição o conceito de acessibilidade 360°. Explique essa ideia e comente a importância de ampliar ao máximo a visão de acessibilidade que temos no Brasil.
O conceito de acessibilidade 360° foi criado durante o desenvolvimento do novo plano de comunicação da empresa, iniciado em 2012. Esse conceito afirma nosso compromisso em tornar os projetos culturais acessíveis às pessoas com deficiência, mobilidade reduzida, idosos, crianças pequenas e novos públicos, compartilhando todos os benefícios específicos das adequações de acessibilidade com os demais públicos das instituições culturais, a fim de incentivar uma cadeia de conhecimento, bem como o uso e a legitimação da acessibilidade cultural.
A partir do início da atuação do Museus Acessíveis, em 2006, quais evoluções você identificou no cenário de acessibilidade cultural no Brasil?
Nestes 11 anos de atuação, observamos um grande crescimento da oferta de ações culturais acessíveis em espaços culturais de todo o país e também da conscientização de gestores e profissionais da área de cultura em relação à importância de promover a inclusão cultural das pessoas com deficiência e aos benefícios que a acessibilidade proporciona aos demais públicos usuários dos equipamentos e dos projetos culturais.
Maquete Tátil (Foto: Divulgação)
No cenário geral, vocês ainda identificam alguma resistência por parte de instituições, artistas e produtores culturais com relação às políticas de acessibilidade cultural?
Podemos afirmar que essa resistência está quase desaparecendo. Já existe um consenso ético, por parte de gestores, profissionais, artistas, produtores e curadores, em relação à necessidade veemente de os produtos culturais oferecerem recursos mínimos de acessibilidade às pessoas com deficiência. Os poucos profissionais reticentes ou que não tiveram a oportunidade de participar de projetos culturais acessíveis têm mostrado uma postura bastante positiva e colaborativa para escutar, aprender, observar e propor soluções acessíveis que, em muitos casos, são de grande relevância.
Para você, quais são os próximos passos que as políticas de acessibilidade cultural precisam dar no Brasil?
Acredito que, partindo de leis e normativas que defendam os direitos culturais das pessoas com deficiência ao acesso de produtos e espaços culturais, é necessário desenvolver políticas públicas federais, estaduais e municipais que viabilizem ações de formação, acesso à informação, incentivo financeiro e divulgação, a fim de que profissionais e gestores de órgãos públicos e privados tenham oportunidades e adquiram conhecimento suficiente para desenvolver propostas acessíveis, independentemente de sua localização geográfica e de sua estrutura.
As políticas institucionais também devem ser desenvolvidas e regulamentadas nos regimentos dos espaços culturais, para que não ocorra nenhum retrocesso ou paralisação de investimento nas ações de acessibilidade, mesmo com o enfrentamento de crises financeiras e políticas.