Por Ana Luiza Aguiar 

Depois de quase 20 anos de carreira, o trio de percussionistas paraenses Manari, formado pelos músicos Márcio Jardim, Nazaco Gomes e Kleber “Paturi” Benigno, finalmente gravou seu primeiro DVD, Sons da Floresta, em dezembro de 2018. A inspiração da obra, como o próprio nome sugere, foi a musicalidade e a “orquestra de sons” que a Amazônia produz naturalmente. O projeto foi aprovado como parte do programa Rumos do Itaú Cultural.

A gravação marca um retorno às origens instrumentais percussivas autorais do trio. Na última década, o Manari vinha acompanhando grandes nomes da música brasileira, como Fafá de Belém, Pepeu Gomes, Sebastião Tapajós e Naná Vasconcelos. “Os últimos trabalhos que a gente fez foram em cima das músicas das outras pessoas, trabalhamos mais para acompanhar. Agora estamos voltando às nossas raízes. E com isso os tambores estão na frente”, explica Márcio.

O show traz sete músicas inéditas, além de uma releitura de “Dançando no Rio”, que fez parte do primeiro CD do grupo, Braços da Amazônia (2002), mas com uma roupagem nova, com a melodia e os baixos na marimba. “A gente está mergulhando mais no universo percussivo nesse momento, fomentando mais a percussão aqui do Norte”, diz Paturi. Durante o show, o trio de percussionistas é acompanhado na guitarra e no baixo pelos filhos de Márcio. “William e Wesley [Jardim] vão fazer os temas instrumentais. Eles já tocam com a gente desde criança”, comenta Nazaco.

Nazaco Gomes, Kleber “Paturi” Benigno e Márcio Jardim, do Trio Manari (imagem: Alan Soares)

Histórico

O trio se conheceu em 2000, quando todos participaram de um curso de percussão erudita do Conservatório Carlos Gomes, em Belém (PA). Naquele mesmo ano, foram convidados a excursionar fora do país com o grupo Percussão Brasil. Essa viagem foi um divisor de águas para os músicos: impressionados com a receptividade das plateias estrangeiras aos ritmos paraenses, eles voltaram decididos a mergulhar na sonoridade amazônica. Nascia aí o Manari.

Os percussionistas partiram então para o interior do Pará a fim de pesquisar as particularidades musicais da mistura criada pela interseção entre os universos negro, índio, caboclo e marajoara. Eles dialogaram e trocaram experiências com músicos das pequenas cidades por onde passaram, o que acabou gerando arranjos percussivos a partir de sons da água, da floresta e da musicalidade da fala de um nativo. Dessa incursão nasceu o álbum Braços da Amazônia, escolhido, em 2004, como Melhor CD e Melhor CD Instrumental Erudito no Prêmio Cultural da Música.

A inovação musical resultante dessa pesquisa toda chamou atenção dos organizadores de um dos maiores festivais de percussão do mundo, o Percussive Arts Society International Convention (Pasic), de Nashville (Estados Unidos), que convidou o Manari para se apresentar – e para dar oficinas de percussão – nas edições de 2004 e 2007. A visibilidade acabou abrindo as portas do mundo para o trio, levando-o a se apresentar na Europa e nas América do Norte e Central diversas vezes.

O trabalho de pesquisa é, até hoje, uma marca do Trio Manari, que estuda instrumentos exclusivos da Amazônia, como o curimbó. Feito de madeira rústica e de couro de boi, ele é a base do ritmo mais tradicional da região, o carimbó. O grupo também realiza um trabalho pioneiro de mapeamento, documentação e criação artística, além de ministrar oficinas de percussão – que integram teoria musical e manipulação de instrumentos – a jovens e adultos em vários projetos locais, nacionais e internacionais.

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