por Letícia de Castro

Foi em 2014 que os dançarinos mineiros Victor Alves e Oscar Capucho se uniram em torno de uma pesquisa sobre os sentidos físicos: tato, paladar, audição, olfato e visão. Desse encontro surgiu o espetáculo Sentidos, focado na representação coreográfica das sensações humanas.

Cego desde os 9 anos, Capucho desenvolve um trabalho de sensibilização corporal a partir da dança, enquanto Victor atua com dança urbana (ele é fundador da Laia Cia. de Danças Urbanas, de Belo Horizonte). Depois de Sentidos, o próximo passo da dupla foi a montagem de E a Cor a Gente Imagina, que dá continuidade às pesquisas iniciadas no primeiro espetáculo.

Nesse segundo projeto, a dupla explora as diferenças físicas e as experiências diversas que envolvem o cotidiano dos dois artistas. Em um mundo predominantemente visual, a performance mostra o que há de diferente entre o corpo do cego e aquele de quem enxerga e investiga a memória e a imaginação a partir da realidade da pessoa com deficiência visual.

A peça estreou em Belo Horizonte, em 2016, mas para os artistas não bastava apresentar o trabalho na capital mineira. Eles queriam fazê-lo circular em outras cidades e, para viabilizar isso, conseguiram o apoio do Rumos Itaú Cultural. Entre outubro e dezembro de 2018, Alves e Capucho viajaram por sete cidades com a peça: Viçosa, Ouro Preto, Tiradentes, Araxá, Diamantina (todas em Minas Gerais), São Paulo e Rio de Janeiro. “Para nós era fundamental que o espetáculo encontrasse seu público; por isso, em cada localidade, entramos em contato com instituições de apoio a deficientes para fazer parcerias”, conta Alves.

Todas as apresentações aconteceram em espaços acessíveis e contaram com audiodescrição e interpretação na Língua Brasileira de Sinais (Libras), além de um bate-papo com os artistas ao final do espetáculo. A dupla também ofereceu, em cada cidade por onde passou, oficinas a até 30 pessoas com idade a partir de 12 anos. Alves ministrava uma atividade de dança contemporânea e Capucho uma de sensibilização corporal. Um dos momentos mais interessantes, segundo Alves, foi a passagem por Viçosa, onde acontecia o Simpósio de Dança em Cadeira de Rodas, na universidade federal da cidade. As oficinais reuniram deficientes visuais, dançarinos, coreógrafos e cadeirantes.

Para elaborar o número, os artistas fizeram uma pesquisa minuciosa, que teve início em 2015 e contou com uma imersão no Instituto São Rafael, escola na capital mineira que é referência em educação para cegos. Lá, eles puderam acompanhar atividades dos estudantes e discutir as sensações que permeiam a vida sem visão: o medo, a afetividade, o amor, a solidão, as diversas texturas do dia a dia. “Na dança, isso foi construído por meio do tato, da memória fotográfica que cada corpo, o cego e o vidente, possui e das diferenças imagéticas e perceptivas em relação ao movimento. O espetáculo mostra como esses corpos se deslocam, lidam com os espaços e entendem a dança”, conclui Alves.

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