Em 2014, o então arte-educador Diego Jesus passou por uma experiência traumatizante. Ele trabalhava para a ONG Redes da Maré, que atua no Complexo da Maré, um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro. Ao sair de uma das escolas depois de uma reunião com a diretoria, Diego presenciou algo de que até então só tinha ouvido falar: professoras e funcionárias reconduzindo crianças e adolescentes que já haviam terminado as aulas para dentro do edifício, pois tinha começado uma operação policial nos arredores da escola. Do interior do prédio, ele ouviu o tiroteio que acontecia lá fora. “Na hora eu pensei: de que adianta ter 44 escolas na Maré se essa é a realidade?”, contou. Foi daí que nasceu a vontade de fazer o documentário Meu caminho até a escola, finalizado em janeiro com o apoio do programa Rumos, do Itaú Cultural (IC).

Uma mulher, diante de uma lousa de escola, ergue uma camisa de uniforme escolar suja de sangue.
Cena do filme

O percurso para realizar o longa-metragem não foi fácil, e Diego chegou a desistir após duas tentativas fracassadas de conseguir financiamento. Foi preciso que uma tragédia acontecesse para que o filme saísse do papel. No dia 20 de junho de 2018, o adolescente de 14 anos Marcos Vinícius da Silva foi morto a caminho da escola, na Maré, por um tiro de fuzil que partiu de um veículo blindado da polícia militar. Ao presenciar a força com que a mãe do adolescente, Bruna da Silva, cobrava do Estado uma explicação para o assassinato do seu filho, Diego decidiu procurá-la e reescrever o roteiro do filme, tendo Marcos Vinícius como fio condutor. Bruna se integraria ao projeto, tanto atuando no filme quanto escrevendo em conjunto o roteiro.

Apesar da tragédia pela qual passou, ela não é uma pessoa triste ou ressentida – muito pelo contrário: é forte e esperançosa. “A morte do meu filho me fez renascer”, conta a mãe. Hoje, Bruna se dedica à militância por mais segurança na Maré, onde continua vivendo.

Um dos momentos mais marcantes do documentário é quando Bruna lê uma carta que escreveu para o filho após sua morte. “Eu ainda tenho tanto para conversar com o meu filho. Eu queria contar para ele o tanto de coisas boas que chegam até mim em nome dele”, ela diz, com um sorriso nos lábios. Para Bruna, o documentário foi uma dessas coisas boas. “Muito se falou sobre a morte do Marcos, mas ali contamos sobre sua vida. Contamos quem era o meu filho.”

Bruna e Diego querem, com seu filme, mostrar esse ambiente escolar ameaçado pelos conflitos armados cotidianos que acontecem nos turnos das atividades nos colégios e promover uma discussão sobre as consequências da violência para o acesso à educação. Segundo os boletins Direito à segurança pública na Maré, produzidos pela Redes da Maré, entre 2017 e 2020 as escolas do complexo tiveram 58 dias letivos cancelados por causa das operações policiais. Só em 2017, foram 35 dias sem aula, o que correspondeu a 17% do calendário escolar daquele ano. Em 2020, ano de início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, as escolas funcionaram apenas três dias em pouco mais de um mês letivo e devido às operações policiais na Maré. Entre 2007 e 2021, segundo informações da ONG Rio de Paz, 81 crianças de zero a 14 anos morreram vítimas de “bala perdida”, muitas delas nas favelas e periferias do Rio de Janeiro.

Sinopse

Em junho de 2018, o adolescente Marcus Vinícius da Silva foi atingido por um tiro de fuzil a caminho da escola durante uma operação policial na Maré, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro. Em seu leito de morte, Marcus disse para a mãe que fora baleado pela polícia. Desde aquele momento, Bruna da Silva luta por justiça pelo filho. Em meio à pandemia de covid-19, ela trabalha distribuindo alimentos na favela onde mora e cobra respostas do sistema judicial para o caso de Marcus.

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