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O início da pandemia de covid-19, declarado em março de 2020, fez com que nos empenhássemos em ampliar o olhar para o universo cultural, fortalecendo-o e revisitando-o, tendo em vista os desafios que se colocavam, sobretudo a impossibilidade de realizar nossas atividades presencialmente, em razão do isolamento social. Iniciamos, assim, um intenso movimento de aprofundação em novas tecnologias no Itaú Cultural (IC), visando promover e incentivar experiências artísticas no ambiente digital.

Esse esforço gerou impacto na difusão das artes cênicas. Passamos a experimentar possibilidades de programação em outras plataformas e novos espaços para a participação do público. Nossa atenção se voltou com mais profundidade para o campo da mediação cultural, intensificando estratégias que gerassem uma atmosfera de presença e de encontro, a fim de estreitar vínculos com o público.

A experiência nos inspirou a compor grupos de espectadores de diferentes regiões do país, a partir de suas intervenções nas conversas mediadas que fizeram parte de nossa programação virtual. Delineou-se assim o Ensaios de fruição, conduzido pelo Núcleo de Artes Cênicas do IC. Com salas virtuais abertas aos interessados em geral, o programa teve início com a contribuição do público nos ensaios da peça teatral Que os mortos enterrem seus mortos, de Samir Yazbek, com direção de Marcelo Lazzaratto; e do espetáculo de dança De passagem – outras paisagens, da Cia. Dançurbana, dirigido por Marcos Mattos.

 

Imagens sobrepostas. Mais ao fundo está uma pessoa de costas em pé num barco, com os braços abertos segurando um abacaxi em cada uma das mãos de frente a uma ponte e dentro de um rio, com prédios ao redor. Em outro plano está um uma pessoa usando uma máscara.
Ensaio Artístico Revista Obs 33 | Frame do filme Sethico. Foto de Breno César e montagem de Felipe Correia 

Em setembro de 2021, outra experiência foi realizada, desta vez com um grupo de espectadores assíduos nas programações anteriores, que foram convidados para acompanhar o processo de criação do novo trabalho cênico do Grupo Magiluth, do Recife. Esse público (cri)ativo se afetou, interveio e gerou estímulos, conteúdos e outras subjetividades para a obra em desenvolvimento. Inspirado no poeta pernambucano Miró da Muribeca, o espetáculo estreia em 11 de novembro no palco do IC.

Com o foco do programa sendo a qualificação do protagonismo do público em condições muito novas – os ambientes virtuais –, as suas características dificultam uma mensuração quantitativa por meio de indicadores que avaliariam a experiência individual, inclusive apontando novas searas de investigação. Esse tipo de mensuração, porém, não foi deixado de lado, já que os encontros com o Grupo Magiluth tiveram dois importantes registros: uma publicação dedicada aos processos de criação, o Caderno Ensaios de fruição [e outras fricções], e uma pesquisa com os espectadores-participantes dos encontros, descrita no artigo “Ensaios de fruição com o Grupo Magiluth: relato de uma experiência qualitativa de pesquisa-ação de mediação e de criação artística”, de Maria Carolina Vasconcelos Oliveira e Júlia Fontes, publicado nesta edição da revista.