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Esportes, contato com a natureza, artes em geral e outras atividades que promovam o bem-estar devem ou não estar presentes no currículo escolar?

Para a neurocientista Adele Diamond, diretora do Centro de Neurociência do Desenvolvimento Cognitivo da Universidade de British Columbia, em Vancouver, no Canadá, essas atividades são imprescindíveis em qualquer currículo que tenha por finalidade trabalhar com o desenvolvimento integral dos estudantes. E a justificativa para tal está em descobertas científicas e pedagógicas: jogos, brincadeiras, passeios e desafios ao ar livre, criação e fruição artística, e práticas corporais em geral contribuem para o desenvolvimento e o aprimoramento das funções executivas do cérebro.

As funções executivas são processos mentais que ajudam uma pessoa a raciocinar, solucionar problemas, compreender um texto escrito ou oral, fazer escolhas, autocontrolar-se, ter disciplina, criar e ser flexível quando há mudança de planos ou novas informações. Não é difícil perceber que todas essas habilidades são requisitadas em situações dentro e fora da sala de aula – ou seja, na escola e na vida.

Acompanhe o que a pesquisadora e especialista, preocupada com o excesso de atividades acadêmicas na escola em detrimento de outras igualmente ou mais importantes para as crianças, diz nos vídeos abaixo.

Três das principais funções executivas do cérebro são:

- controle inibitório (ou autocontrole);

- memória de trabalho (ou memória operacional); e

- flexibilidade cognitiva.

O controle inibitório é a capacidade de resistir a tentações para realizar o que é mais adequado ou necessário em determinada situação. Ele favorece a manutenção do foco na execução de uma tarefa e, no comportamento diário, ajuda a esperar a vez de falar, a não ofender os outros e a não fazer xixi nas calças, por exemplo. No vídeo a seguir, Adele Diamond dá outros exemplos e explica a importância dessa função executiva, ressaltando como pode ser trabalhada na escola.  

A segunda função executiva destacada pela pesquisadora e abordada no vídeo a seguir é a memória de trabalho, ou memória operacional. Trata-se da capacidade de ter informações em mente para usá-las nas tarefas e nas brincadeiras do dia a dia.

A flexibilidade cognitiva nada mais é do que a capacidade de ver um problema por diferentes ângulos e ajustar-se a mudanças ou situações inesperadas. Neste vídeo, Adele Diamond apresenta um divertido e inusitado exemplo que ilustra essa função executiva e sua importância na escola.

O controle inibitório, a memória de trabalho e a flexibilidade cognitiva relacionam-se ainda a outras funções executivas, como o planejamento e o raciocínio, que compõem o que a pesquisadora chama de inteligência fluida. Adele enfatiza que todas podem ser ensinadas, desenvolvidas e aprimoradas na escola. Para isso, os educadores não podem se preocupar apenas com a formação conteudista, pois as funções executivas são despertadas ou aprimoradas com outros tipos de atividades que não as acadêmicas.

Para a neurocientista, as crianças têm que ser ativas, envolvendo-se em atividades práticas. Isso vale para crianças de todas as idades, mas sobretudo para as menores, que naturalmente encontram dificuldades em ficar imóveis ouvindo instruções orais. 

Há, porém, uma atividade que não envolve movimentação física e se destaca ao produzir efeitos benéficos na memória ocupacional e na atenção sustentada: a contação de histórias. Saiba mais conferindo o vídeo a seguir.

A contação de histórias pode ser realizada pelo professor, pelos pais ou por qualquer pessoa mais velha – os avós e outros adultos da comunidade. Eles podem narrar contos da literatura infantil ou compartilhar a própria história de vida com as crianças, falando sobre sua infância e suas vivências. A conversa e a interação que acontecem no contexto da leitura trazem benefícios tanto ao desenvolvimento da linguagem e do letramento quanto à maturação cerebral.

Para Adele Diamond, a escola precisa resgatar maneiras de educar as crianças que sempre se mostraram eficazes, como as atividades que envolvem a observação de adultos e de crianças mais velhas, acompanhadas de um incentivo e um convite para que participem das tarefas, colaborando com elas.

O que deve ser evitado são as situações estressantes que por vezes a escola proporciona, como as avaliações classificatórias, a pressão por notas e por desempenhos extraordinários, a alfabetização forçada precocemente e outras exigências desnecessárias. O motivo? O efeito que o estresse causa no tamanho do telômero. Você entende o que é telômero na explicação dada por Adele neste vídeo.

Uma maneira de anular o efeito do estresse sobre a rede neural é receber afeto e atenção, além de ter a oportunidade de se expressar. No caso das crianças, cabe aos mais velhos fazer uma escuta atenta das manifestações e, claro, ser fonte de carinho e de empatia. Tudo isso faz com que o organismo produza a telomerase, enzima restauradora dos telômeros. 

É importante ressaltar que um dos fatores que causam estresse nas crianças e nos jovens é o sentimento de que não são inteligentes o suficiente. Adele Diamond faz uma analogia com o bebê que está aprendendo a andar: antes que consiga se sustentar em pé e se locomover, ele cairá várias vezes, mas nem por isso os adultos o acharão um fracasso ou lhe darão uma “nota D” pelas tentativas sem sucesso. Ao contrário, é prática corrente estimular a criança a continuar se esforçando, dizendo: “Muito bem! Você está chegando lá! Já, já estará andando, eu tenho certeza!”. Mas o que acontece com a criança, na escola, quando não se sai bem em uma atividade? Veja o que diz a pesquisadora.

Para além de manifestações de carinho e de afeto, como o abraço, há muitas outras ações que ajudam a reduzir o estresse de crianças, adolescentes e jovens: as atividades físicas e artísticas, a convivência com animais, o contato com a natureza, a meditação e a ioga. Adele Diamond ressalta que os desenvolvimentos motor e cognitivo estão entrelaçados: as partes cognitiva, espiritual, social, emocional e física afetam umas às outras e o mais eficiente é reforçar todas. Mas quais são as melhores atividades para treinar e desafiar as funções executivas e apoiar, indiretamente, as necessidades sociais? Veja o que a neurocientista tem a dizer.