Expedição Brasiliana: crie e decore fachadas
Você já pensou por que enfeitamos as coisas e a nós mesmos?
Os brasileiros são conhecidos por sua recepção calorosa, mas nem sempre foi assim: há 200 anos, raramente os viajantes conseguiam conhecer o interior das casas dos moradores dos lugares por onde passavam, que eram bastante tímidos e reclusos, segundo relatos. Mas, quando era possível, os anfitriões tinham a chance de enfeitarem a si mesmos e também a casa para receberem convidados.
Ainda hoje, quando queremos receber alguém, preparamos a cena do encontro: procuramos pôr a mesa com uma bela toalha, usar flores e usar aquelas louças ou talheres guardados para ocasiões extraordinárias. Nesses gestos está contida a ideia de querer receber bem as pessoas e de dizer que elas são especiais e por isso merecem que se dedique um tempo para decorar o ambiente para elas. Também é um jeito de querer mostrar a melhor aparência possível de nós e de onde vivemos. O ato de decorar, portanto, está longe de ser supérfluo – embora muitos continuem pensando assim.
Uma das pessoas que achavam a decoração algo supérfluo era o arquiteto tcheco Adolf Loos, que chegou a escrever um manifesto criticando seu uso exagerado e travando assim uma batalha entre a ornamentação e a funcionalidade – as quais acreditava serem coisas distintas e inconciliáveis.
Também o movimento arquitetônico brutalismo fez críticas à ornamentação, que escondia o processo, o material bruto, em vez de deixá-lo aparente, como fizeram com o concreto (béton, em francês), de onde lhe vem o nome. De outra forma, a confeiteira norte-americana Christina Tosi conseguiu conciliar os princípios desse movimento com a decoração, ao produzir bolos sem cobertura lateral, justamente para que as camadas fiquem à mostra, porém enfeitados no topo.
Além das maneiras de entender a ornamentação, é fato que ela é parte da história e da cultura. Desde porcelanas até cadeiras, talheres, balaios, janelas e fachadas, passando pela própria escrita e por acessórios, como brincos, colares e pulseiras. Todos os povos de que se tem notícia, em diferentes tempos, elaboraram e confeccionaram objetos decorados.
E esses objetos, muitas vezes, são cheios de sentido e significado. Se, na época de Natal, colocamos em casa pinheiros com bolinhas coloridas penduradas e enchemos as ruas de luzes, é, talvez, porque queremos vivenciar tudo que o Natal significa e nos lembrarmos disso. A decoração nos faz pensar que aquele período é diferente do restante do ano, que é especial e mágico.
Mas a decoração, a ornamentação, não é encontrada apenas em ocasiões incomuns: ela está no dia a dia. Convido você a olhar atentamente sua casa e, quando sair, olhar também as fachadas por aí. Faça como um expedicionário e observe: a parede, o chão, o portão, a janela... São todos iguais? Da mesma cor, textura, formato? As grades que protegem as construções que observou são retas, curvas, com detalhes?
Com um pouco de atenção, notará que cada construção, cada casa, cada edifício é diferente do outro. Os lugares têm funções diferentes e a decoração ajuda a torná-las mais eficazes. A fachada de um restaurante, por exemplo, é muito distinta da de um hospital ou clínica. Além disso, as moradias costumam refletir a personalidade e gosto de quem vive ali. E, quem sabe, como disse o designer e escritor William Morris: “Não ter nada em sua casa que não seja útil ou que considere belo seja um jeito de dar encanto e tornar o que é comum especial”.
Para se inspirar:
Quadraturismo;
Grotesco;
Pintura Decorativa;
Brasiliana Iconográfica na quarentena: veja como era ficar em casa no século XIX;
O Passeio Público Entrada/Promenda Entrée;
Igreja do Convento de S. Bento;
Igreja de St. Sebastião;
Abolição da Escravatura;
Le dessous de la porte cochère d’un personnage de la cour / Le bando, (Proclamation Municipale);
Huma historia;
Costume des ministres / L’Empereur suivi d´un chambellan et d’un premier valet de chambre;
S. A. R. o Serenissimo Principe D. Pedro. Principe Real do Reino Unido de Portugal e do Brazil e Algarves.