A partir de sexta, 5 de novembro, a plataforma de streaming Itaú Cultural Play acrescenta em seu catálogo uma mostra de filmes dedicada especialmente a Zózimo Bulbul (1937-2013), ator, cineasta, produtor e roteirista carioca considerado um dos pioneiros do audiovisual negro no Brasil.

A mostra traça amplo panorama histórico de sua carreira como diretor, trazendo filmes das décadas de 1970 até 2010. São nove produções, com destaque para o seu primeiro curta-metragem, Alma no olho (1973), e o seu último filme, Renascimento africano (2010), além daquele que marcou sua estreia como ator, Pedreira de São Diogo (1962), dirigido por Leon Hirszman.

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>> Abolição é tema de debate com Kênia Freitas, Joel Zito e Jeferson Tenório no dia 11 de novembro, como parte da programação de lançamento da plataforma Ancestralidades

Veja abaixo quais filmes entram no catálogo.

Abolição
Zózimo Bulbul | 1988
Documentário | 160 min

Foto em preto e branco de uma pessoa negra olhando triste para a frente com rede de pesca em volta dela
Abolição (imagem: frame do filme)

Fotos de arquivo, pinturas de Jean-Baptiste Debret e canções do candomblé abrem este ambicioso documentário que investiga o processo histórico da abolição da escravatura no Brasil a partir de um olhar preto. Entrevistas com personalidades colocam em xeque as interpretações canônicas sobre o evento, contrapondo a situação da população negra cem anos depois.

Por que ver?

Mais importante produção cinematográfica já realizada no Brasil a respeito da abolição, o filme é um verdadeiro épico documental. O farto material de arquivo e os depoimentos de artistas e ativistas negros como Abdias Nascimento, Lélia Gonzalez e Grande Otelo oferecem um retrato monumental e crítico sobre o passado e o presente do país.

República Tiradentes
Zózimo Bulbul | 2005
Documentário | 36 min

Imagem colorida de um homem e uma mulher dançando. Os dois são negros, ela tem cabelo curto, está de batom vermelho e vestido vermelho e preto e ele é careca e está de camisa branca com suspensórios. Os dois sorriem.
República Tiradentes (imagem: frame do filme)

A Praça Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro, é um endereço icônico da cidade. Palco de manifestações desde os tempos da colônia e local frequentado pelo povaréu, foi também o berço das gafieiras e da malandragem carioca. De maneira afetiva e inteligente, o filme se debruça sobre essa e outras histórias.

Por que ver?
Tal como um cronista da cidade, Zózimo Bulbul filma os edifícios, as ruas e os monumentos da praça. No entanto, seu olhar sensível, que faz jus à literatura do carioca Lima Barreto, não se restringe a essa presença física e mergulha na vida popular, com seus tipos humanos, dramas e manifestações culturais.

Aniceto do Império
Zózimo Bulbul | 1981
Documentário | 12 min

Imagem em sépia de homens negros em uma calçada com os braços esticados olhando para a direita
Aniceto do império (imagem: frame do filme)

Um homem caminha pelas ruas de uma comunidade carioca saudando os moradores. É Aniceto do Império, o fundador da Império Serrano, uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro. Ele fala sobre sua vida e sua trajetória artística, do trabalho no cais do porto à glória de sambista.

Por que ver?
O filme resgata a biografia de um personagem fundamental da história da cultura negra e operária do Rio de Janeiro. Aniceto conta sua história com sua própria voz, indicando a casa onde morou e os lugares onde viveu. A presença viva do artista-militante se completa com filmagens de shows e muitos sambas.

Pequena África
Zózimo Bulbul | 2002
Documentário | 14 min

Imagem colorida de uma parede com a placa de rua Largo João da Baiana
Pequena África (imagem: frame do filme)

Um menino fala sobre a Pequena África, nome dado a um conjunto urbano no Rio de Janeiro onde viveram ex-escravizados. O casario e as lembranças de uma senhora filha de africanos vão aos poucos mapeando a antiga vida do lugar. Na região está a Pedra do Sal, local de chegada de escravizados e também um dos berços do samba.

Por que ver?
Apresentado por diferentes personagens, o filme resgata a história da comunidade negra do Rio de Janeiro a partir da óptica de um de seus filhos, o cineasta Zózimo Bulbul. Imagens de ruas e de moradias combinam-se a testemunhos memorialísticos e à celebração de um patrimônio cultural inestimável.

Samba no trem
Zózimo Bulbul | 2000
Documentário | 22 min

Imagem colorida de homem negro de óculos e camiseta branca segurando instrumento de percussão
Samba no trem (imagem: frame do filme)

Dedicado a uma das maiores expressões populares brasileiras, o samba, e aos seus artesãos, os músicos negros cariocas, o filme acompanha os bastidores da celebração do Dia Nacional do Samba no Rio de Janeiro. Sambistas afinam instrumentos enquanto cavaquinhos e pandeiros contaminam uma multidão de dançarinos.

Por que ver?
O filme, entre as últimas produções de Zózimo Bulbul, mergulha no universo do samba carioca. A câmera percorre com liberdade os vagões dos trens e os bairros populares da capital fluminense, conversando com pessoas e captando os preparativos para as rodas e o espírito democrático dos festejos.

Alma no olho
Zózimo Bulbul | 1973
Documentário | 11 min

Retrato em preto e branco de homem negro olhando para a frente com os braços cruzados em frente do corpo e as mãos ao lado do rosto
Alma no olho (imagem: frame do filme)

Retratos fragmentados do rosto, da boca e de um corpo nu são o ponto de partida para uma viagem por diferentes personagens e gestualidades negras. Por meio delas, o filme descreve a trajetória do negro desde o corpo livre mítico-escultural até o escravizado, acorrentado e torturado pelo colonizador branco.

Por que ver?
O curta é uma raríssima pérola do cinema experimental brasileiro. Pioneiro no debate sobre representatividade negra nas telas, Bulbul cria uma gestualidade própria e inventiva, captada por uma câmera fixa que lembra as experiências de vanguarda. A música é de John Coltrane.

Referências
Zózimo Bulbul | 2006
Documentário | 38 min

Imagem de Joel Zito Araújo. Ele é um homem negro, com bigode e cavanhaque e de óculos de grau e camisa amarela. Ele olha sério para a frente.
Referências (imagem: frame do filme)

Na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), espaço mítico para a história da sétima arte no Brasil, um grupo de cineastas reúne-se para falar sobre o cinema negro. Entre eles, estão nomes fundamentais como Haroldo Costa, Waldir Onofre, Antonio Pitanga e Joel Zito Araújo.

Por que ver?
Despretensioso como uma conversa entre amigos, trata-se de um registro valioso sobre a participação dos artistas negros na formação do cinema brasileiro. Trechos de filmes – entre eles, o raríssimo longa-metragem Pista de grama, de Haroldo Costa, com a participação de João Gilberto – unem-se a depoimentos, análises e memórias pessoais.

Renascimento africano
Zózimo Bulbul | 2010
Documentário | 51 min

Fotografia colorida de homem negro sentado em sofá estampado com turbante vermelho na cabeça e roupa larga estampada. Ele tem cavanhaque e olha sério para a frente. Na legenda está escrito mas é também onde os outros olhos
Renascimento africano (imagem: frame do filme)

A convite do governo do Senegal, Zózimo Bulbul viaja ao país africano para retratar sua cultura e sua história, tão pouco conhecidas pelos ocidentais. A jornada do diretor pela jovem nação inicia-se pela Ilha de Gorée, ponto de comércio de negros escravizados que sustentou parte da riqueza dos países europeus por mais de dois séculos.

Por que ver?
Neste filme doloroso e festivo, realizado por conta das comemorações dos 50 anos de independência do Senegal, o diretor embrenha-se nas raízes do país, derrubando mitos e preconceitos. A consciência histórica da barbárie da escravidão não apaga a promessa de um futuro de autonomia e liberdade para o continente africano.

Zona carioca do porto
Zózimo Bulbul | 2006
Documentário | 25 min

Foto colorida de uma senhora negra de camisa e óculos de grau, com cabelos grisalhos. Ela olha séria para a esquerda, com a boca levemente aberta
Zona carioca do porto (imagem: frame do filme)

Ponto de referência histórico para o desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro, a região portuária guarda memórias dos tempos da colonização e da vida das comunidades afro-brasileiras. O filme mergulha nessas lembranças e também fala sobre o trabalho dos moradores pelo reconhecimento de um espaço quilombola cravado na capital carioca.

Por que ver?
Imagens de arquivo da zona portuária, filmagens atuais que documentam o seu processo de transformação radical e o depoimento de moradores e artistas negros dão a dimensão simbólica de um local onde se pratica a capoeira e se canta o samba há séculos, e pelo qual passaram personalidades como Tia Ciata e Pixinguinha.

Pedreira de São Diogo
Leon Hirszman | 1962
Drama | 18 min

Imagem em preto e branco de um homem negro com chapéu virado para a esquerda soprando uma corneta
Pedreira de São Diogo (imagem: frame do filme)

Trabalhadores colocam dinamites num paredão de pedra e observam a explosão. O gerente da pedreira anota informações num caderno e dá ordens para que uma nova carga, bem maior do que a primeira, seja colocada. No alto do morro que forma a pedreira, veem-se barracos e pessoas. Cientes da ameaça imposta pela nova explosão, os trabalhadores decidem agir.

Por que ver?
Estreia de Zózimo Bulbul como ator de cinema, este curta-metragem de Leon Hirszman é um marco do cinema político brasileiro dos anos 1960. Produzido pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC/UNE), antecipa a utopia revolucionária do Cinema Novo por meio de uma história de protagonismo popular. O curta é um dos episódios do longa Cinco vezes favela.

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