por Cassiano Viana

Marcela Keller tem 35 anos. Nasceu em Florianópolis, Santa Catarina. Ela conta que desde muito nova a fotografia se revelou significativa em sua vida. “Comecei muito cedo a registrar amigos e os festivais de dança dos quais participava, ainda com câmeras analógicas dos meus pais”, lembra. 

“Queria poder sempre reviver aqueles dias, queria poder olhar de novo e sentir a nossa emoção, tentar relembrar a equipe, os figurinos, a energia que trocávamos e recebíamos naqueles dias de competição. E a fotografia surgiu como a minha melhor aliada para isso.”

Aos 14 anos, comprou a primeira câmera digital, uma Mavica, e começou os experimentos. A vivência com retratos se tornou intensa a partir de 2013, quando passou a convidar pessoas aleatórias e não experientes para ser registradas em estúdio de forma espontânea e sem grandes produções. 

“O retrato vincula a gente ao outro de forma súbita”, diz. “É uma experiência de troca que vale por mil encontros, e sempre acabei me tornando próxima, muitas vezes amiga, dos meus modelos de retratos. O retrato eterniza um encontro extraordinário e uma genuína troca energética, onde se estabelece um momento de mutação, momento este em que nos tornamos muito mais humanos ao olhar o outro tão de perto.” 

Com a palavra, Marcela Keller:

Imagem feita pela fotógrafa Marcela Keller.
(imagem: Marcela Keller)

“Waiting in the cold light

A noise, a scream tears my clothes

As the figurines tighten with spiders inside them

And dust on the lips of a vision of hell

I laughed in the mirror for the first time in a year

A hundred other words blind me with your purity

Like an old painted doll in the throes of dance.”

(The Cure)

Imagem feita por Marcela Keller.
(imagem: Marcela Keller)

“Summer grows old, cold-blooded mother. The insects are scant, skinny. In these palustral homes we only Croak and wither.” 

(Trecho retirado de um poema de Sylvia Plath)

Imagem feita pela fotógrafa Marcela Keller.
(imagem: Marcela Keller)

“Je suis la plaie et le couteau!

Je suis le soufflet et la joue!

Je suis les membres et la roue,

Et la victime et le bourreau!

Je suis de mon coeur le vampire,

— Un de ces grands abandonnés

Au rire éternel condamnés

Et qui ne peuvent plus sourire!”

(Trecho retirado de um poema de Charles Baudelaire)

Imagem feita por Marcela Keller.
(imagem: Marcela Keller)

“Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.

Mudo, mas não mudo muito.

A cor das flores não é a mesma ao sol

De que quando uma nuvem passa

Ou quando entra a noite

E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.

Por isso quando pareço não concordar comigo,

Reparem bem para mim:

Se estava virado para a direita,

Voltei-me agora para a esquerda,

Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés –

O mesmo sempre, graças ao céu e à terra

E aos meus olhos e ouvidos atentos

E à minha clara simplicidade de alma...”

(Alberto Caeiro, em O Guardador de Rebanhos – Poema XXIX)

Imagem feita por Marcela Keller.
(imagem: Marcela Keller)

“Il est un Dieu, qui rit aux nappes damassées

Des autels, à l’encens, aux grands calices d’or

Qui dans le bercement des hosannah s’endort et se réveille

Quand des mères, ramassées dans l’angoisse

Et pleurant sous leur vieux bonnet noir

Lui donnent un gros sou lié dans leur mouchoir.”

(Fragmento de poema de Arthur Rimbaud)                                  

Imagem feita por Marcela Keller.
(imagem: Marcela Keller)

“Little black girl gets assaulted

Ain’t no reason why

Newspaper prints the story

And racist tempers fly

Next day it starts a riot

Knives and guns are drawn

Two black boys get killed

One white boy goes blind

Little black girl gets assaulted

Don't no one know her name

Lots of people hurt and angry

She's the one to blame.”

(Fragmento de Across the lines”, canção de Tracy Chapman)

Imagem feita por Marcela Keller.
(imagem: Marcela Keller)

“Riu tanto e por tanto tempo que lágrimas brilharam em seus olhos.”

(Neil Gaiman, em Mitologia Nórdica)

Imagem feita por Marcela Keller.
(imagem: Marcela Keller)

“Claro que [o espelho] tem [cor]. É de um cinza cintilante. Se *você* olhar num espelho, tudo que vê é a si mesma, mas conheço uma linda cor quando vejo.”

(Trecho retirado dos diálogos do filme Memórias de uma Gueixa)

Cassiano Viana é editor do site About Light.

Veja também