Com quase quatro décadas atuando no registro de espetáculos teatrais, a fotógrafa Lenise Pinheiro selecionou sete imagens de seu extenso portfólio e conta aqui histórias ou fatos por trás dessas lembranças. Todos os ensaios foram realizados em São Paulo, terra natal da fotógrafa.
“Bia Lessa trabalha o singular e o plural, suas criações para os palcos falam muitas línguas. Rugem os refletores! Nesta foto do ator Caio Blat em Grande sertão: veredas, Riobaldo com garra no lugar da mão e feitiço em forma de olhar. Teatro Sesc Pompeia em janeiro de 2019.”
“Zé Celso e a vista da janela do camarim superior do Teatro Oficina. Ângulo pouco explorado, acesso à pista de vidro no teto retrátil do projeto da Lina Bo Bardi e do Edson Elito. As raízes da árvore cesalpina irrompem o muro do jardim e se projetam para o mundo. Era dia de reportagem, numa tarde de verão de 2010.”
“O ator Luís Miranda em seu momento de aquecimento. No camarim, ele costura um detalhe no figurino, depois faz a base da maquiagem; dando sequência aos exercícios vocais e de ioga que fazem parte da preparação e do aquecimento para a apresentação abrilhantada por Edite, o Guardador de Carros, Chapeuzinho Vermelho, o Rapper, o Executivo, a Madame e a Velha de Xale, múltiplos personagens e personalidades interpretados por ele no espetáculo Sete conto, em 2010.”
“Em homenagem a Tônia Carrero, sua neta, a atriz Luísa Thiré, interpreta Neusa Sueli, célebre personagem de Plínio Marcos defendida por ambas com décadas de diferença, porém com a mesma intensidade. O mesmo DNA confere beleza. Já a desenvoltura e a visceralidade são frutos da dedicação, do talento e do empenho das duas atrizes. Cada qual com seu Veludo e seu cafetão, elas carregam o fardo da personagem, com nuances de luminosidade e magia. Navalha na carne, no Sesc Bom Retiro, em 2018.”
“O Rei Lear, com Raul Cortez, surpreendia a cada fala. Interpretação marcante literalmente coroada neste clássico de Shakespeare. A classe proverbial do ator mesclada às ondas de insanidade que vão acometendo o personagem no decorrer da trama suscitava comentários que faziam a alvorada da equipe em suas apresentações, no Sesc Vila Mariana, em 2000. Críticas e elogios recebidos com naturalidade, uma das marcas do saudoso e querido Raul Cortez.”
“Por que não vivemos. Título do espetáculo apresentado em 17 de fevereiro de 2020, quando ainda nada se sabia da pandemia que tomaria conta do cotidiano de todos. Palcos e plateias seriam esvaziados. Os olhares do público também seriam distanciados na sequência deste ensaio realizado no Teatro Cacilda Becker. A atriz Camila Pitanga começava a apresentação recebendo o público na entrada do teatro. Com figurino esvoaçante, ela adentrava no espaço cênico, fúlgida personagem, também marca registrada da atriz.”
“O assassinato do presidente. Paulo Faria escreve e dirige para Leona Johvs interpretar personagem com força dramática e falas dos dias de agora. Pai e filha se encontram e se confrontam ao legitimar totem e tabu com intensa magnitude. Montagem com altíssimo rigor técnico. Destaque da temporada no teatro da Rua do Triunfo, região central da capital paulista. Teatro Sede Luz do Faroeste em 2018.”
Bastidores é uma série que convida fotógrafos que registram diferentes campos artísticos para selecionar sete imagens de sua carreira e comentar essas produções.