por Heloísa Iaconis
“Uma alusão ao processo de globalização junto com a nossa maior influência, a música celta”: assim Elcio Oliveira define o significado de Terra Celta, nome da banda da qual é vocalista. Criado em 2005, em Londrina (PR), o grupo nasceu de um projeto despretensioso cuja intenção era tocar canções folclóricas de países como Irlanda e Escócia. Até que em 2008 vieram as composições próprias, em português e com a inserção de ritmos brasileiros. De lá para cá, muito das duas culturas foi fundido, gaitas de fole e banjo conversando com a maciez da língua do Brasil. E, assim, o conjunto chega ao quarto álbum, homônimo e lançado em 20 de março nas plataformas de streaming.
Para comemorar a nova empreitada, estava marcado, para o mesmo dia 20, um show no Auditório Ibirapuera (AI), evento cancelado em razão da suspensão das atividades. Por ora, a celebração do trabalho é feita assim: cada um em sua casa, tendo como elo o disco que teve início há três anos. “O processo envolveu mudanças na formação do grupo, crises financeiras e de identidade, elementos que serviram para o amadurecimento de todos. O resultado, com faixas bem diferentes umas das outras, nos agradou”, comenta Elcio.
Há mesmo de tudo um tanto: de letras críticas a músicas leves, Terra Celta (2020) reafirma a junção de culturas, proposta norteadora do sexteto. O vocalista destaca três canções em especial, as quais ele classifica como “mais sérias”: “O Acúmulo”, acerca da era do consumismo, “Gaia”, um pedido de respeito ao meio ambiente e à vida, e “Mulher Maravilha”, uma ode à força feminina. “São temáticas que buscamos abordar evitando o dualismo tão presente em discursos das redes sociais. Temos o intuito de levar reflexão sem que, para isso, haja segmentação do nosso público”, pondera Elcio. Fora essa pluralidade de assuntos, o álbum traz um pouco da energia da banda ao vivo, um gostinho do que está por vir quando o distanciamento social acabar.
Mas, agora, é necessária a separação física, medida eficaz no combate à pandemia do coronavírus, reforça Elcio Oliveira – que, além de artista, exerce a profissão de médico. Mais perto da máscara do que da rabeca neste momento, ele faz questão de reforçar a importância de evitar aglomerações, ficar em casa o máximo possível, lavar as mãos com frequência, tomar sol durante 15 minutos diariamente, beber bastante água e manter o foco no pensamento positivo. “Estamos recebendo uma lição que nos mostra o quão frágil somos e o tamanho da insustentabilidade do nosso modo de viver”, afirma o músico. E esse posicionamento, de criticidade e cuidado, acompanha Terra Celta no ofício e na rotina, coerentes que eles são: a arte, em resumo, ensina a existência prática.