Filme de Tiago Minamisawa é selecionado para o “Animafest Zagreb”
21/05/2021 - 18:30
por Heloísa Iaconis
No início do período pandêmico, o cineasta Tiago Minamisawa se viu em um impasse comum: sem poder trabalhar com audiovisual, tampouco com massoterapia (sua outra área de atuação), ele estava em um “limbo de perspectivas”. Até que, ao saber do Arte como respiro, edital de emergência realizado pelo Itaú Cultural (IC) em 2020, decidiu usar o próprio universo para criar um trabalho. Assim surgiu Mensagem de uma noite sem fim, filme inspirado em conversas de Tiago com um amigo no decorrer dos primeiros meses de suspensão social. O projeto foi contemplado pelo edital do IC e não parou por aí: selecionado para o Animafest Zagreb, o título integra a Sessão Competitiva Infantil +15 Anos do evento – que acontece de 7 a 12 de junho, de forma virtual.
Para o site do IC Tiago fala de seu encanto pelo cinema, do processo inventivo da obra escolhida pelo festival croata e de Kabuki, animação apoiada pelo Rumos 2019-2020. Confira abaixo o depoimento do diretor.
Amor desde criança
“Não me conheço sem ser cinéfilo. Desde pequeno, amava filmes (aos 12 anos, assistia a quatro ou cinco por dia) e nunca tive dúvidas de que seguiria pelo cinema. Às vezes, as pessoas chegam hesitantes na faculdade. Para mim, sempre foi certo o que eu faria e, de fato, fiz: cursei imagem e som na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e me formei em 2006.”
Sinceridade no caos
“Trabalhava em dois empregos: como massoterapeuta e com audiovisual. Quando veio a pandemia, os dois pararam. Fiquei, então, em um limbo de perspectivas. Depois de um tempo, descobri o Arte como respiro e passei a tentar desenvolver uma obra. Porém, uma confusão mental tomou conta de mim, não sabia mais o que era dia e o que era noite. Estava bastante difícil criar algo. Até que pensei: e se eu for o mais sincero que conseguir e usar meu universo pessoal no projeto? Lembrei de pequenos vídeos de Ana Barcabogante, cujo trabalho admiro. A partir desses trechos de testes de animação, escrevi um roteiro baseado em conversas que tive com um amigo sobre a experiência pandêmica, e nasceu Mensagem de uma noite sem fim.”
Surpresa desdobrada
“Ter sido contemplado pelo Arte como respiro foi a primeira surpresa relacionada a Mensagem de uma noite sem fim. A segunda foi a seleção para o Animafest Zagreb. É engraçado porque meu projeto anterior, o curta-metragem Sangro (2019), ganhou vários prêmios, participou de mais de 70 festivais internacionais (como o Festival de animação de Annecy, o evento mais importante do cinema de animação mundial), mas não foi escolhido para o Animafest Zagreb. Nunca achei que um vídeo sem pretensão de ser um título para competições seria o que me colocaria na competição croata.”
Uma jornada inteira
“O Itaú Cultural também faz parte de outro trabalho meu: Kabuki, selecionado na edição 2019-2020 do Rumos. Trata-se da jornada de vida de uma pessoa trans, desde a infância até o momento em que ela se descobre. Tenho direcionado meu fazer artístico para as questões LGBT. Em 2016, por exemplo, editei, com Bruno H. Castro, a coleção Amar – coletânea de livres infantis, quatro livros, sendo cada um representando uma das letras de LGBT. Durante a elaboração dos textos, comecei a ter contato com pessoas trans, suas trajetórias e os percalços sociais que elas enfrentam. Veio, então, a necessidade de realizar um filme que mostre isso e apresente um final diferente do que aquele que o mundo impõe. O título é uma homenagem ao teatro tradicional japonês. Por uma época, em razão de uma ordem imperial, só homens podiam encenar tanto papéis masculinos quanto femininos. Essa história reforça uma reflexão sobre gênero, enfatizada ainda pelo uso do stop motion (técnica pela qual sou completamente apaixonado e traz a materialidade dos bonecos, a ideia de que você constrói seu corpo e a você mesmo). Estamos, a equipe toda e eu, em pré-produção, com muitas etapas pela frente e animados.”
O Brasil múltiplo
“No audiovisual, o que mais quero é sensibilizar o público, de modo que a mensagem que desejo passar gere empatia. O poder do cinema está, justamente, no fato de que ele chega a tanta gente e pode exibir um Brasil múltiplo, cheio de arte, possível.”