por Heloisa Iaconis da Costa

 

As artes visuais atravessam a vida de Sandra Mazzini desde a infância: o que começou como interesse atento se transformou também, depois da graduação, em prática diária. A pintura da artista busca alterar o real a partir de novas perspectivas assentadas em um trançado com as cores, que são o sentimento do trabalho, segundo ela. E é essa procura que chega à fachada do Itaú Cultural (IC) em novembro de 2022. Parte do projeto Arte urbana, a obra em foco, Floresta quadrangular, traz uma vegetação que nasce de um grid em um degradê de tons que vão do verde-escuro até o rosa-claro. Esse jardim equivale ainda a um desafio para a pintora: trata-se da primeira vez que a sua produção ganha a rua.

Sandra Mazzini pintando Floresta quadrangular (2022) | imagem: André Seiti

Em entrevista ao site do IC, Sandra revelou um pouco mais sobre os seus processos e a sua trajetória. Confira abaixo.

Quando você se entendeu artista?

Acho que foi em vários períodos. Assim como muitos pintores, comecei ainda criança. Quando paro para pensar sobre este interesse por composições (colagens, montagens digitais e pintura), percebo que elas sempre estiveram presentes na minha vida. Mas foi só mais tarde, após a graduação em artes visuais, que passei a ter como uma prática diária o fazer artístico.

Como começou o seu trabalho com pintura? Alguém a influenciou?

O que desenvolvo hoje passou a existir no momento em que tive um compromisso maior com o ateliê. Em geral, todas as exposições que visito, principalmente as de pintura, me atingem como influência. Toda vez que tenho um contato presencial com uma obra, gosto de observar todos os detalhes possíveis, os poéticos e os técnicos, e reflito sobre como aplicar as soluções de que mais gostei na minha própria pintura. Conteúdos de cinema, de poesia e de fotografia que pesquiso quase diariamente também me inspiram bastante.

Qual a importância das cores na sua produção?

Acredito que a cor seja o sentimento da pintura. É o elemento que guia as sensações. No caso do meu trabalho, como estudo de paisagem, as cores sempre aparecem como variações de temperatura e de temperamento. É a composição de um caleidoscópio de impressões.

Detalhes de Floresta quadrangular (2022) | imagem: André Seiti

De que maneiras, a seu ver, a cidade e a natureza podem dialogar?

Para mim, principalmente em uma cidade como São Paulo, a imagem mais forte dessa dinâmica é uma árvore chamada falsa-seringueira – que se encontra espalhada por boa parte da capital –, uma planta imensa e com raízes aéreas que geralmente acabam quebrando as calçadas. No entanto, nem por isso se tem como prática cortar essas árvores, posto que são muito antigas e majestosas. É preciso respeitar e entender essa relação, que vai além de uma questão estética ou de jardinagem e domesticação. Devem-se valorizar os benefícios práticos da preservação, que alteram a qualidade de vida na cidade, contornando dificuldades.

Detalhes de Floresta quadrangular (2022) | imagem: André Seiti

Qual obra você criou na fachada do IC? Como se deu esse processo?

É um desafio para mim, porque nunca pintei na rua. No meu ateliê, chego a passar três meses elaborando cada obra de óleo sobre tela. Porém, foi justamente a ideia de experimentar algo novo que me atraiu para esse projeto. Na fachada do IC, mantenho alguns elementos de construção da minha pintura, agora com outra técnica e com tempo menor de elaboração. Crio uma floresta quadrangular brotando de um grid em degradê.

Sandra Mazzini pintando Floresta quadrangular (2022) | imagem: André Seiti

O que a motiva a continuar pintando?

Sempre comento que a sensação de insatisfação com o trabalho corresponde a um dos meus principais motivadores. Se um dia eu fizesse uma obra ou uma série que considerasse completa, não teria sentido partir para a próxima. No fundo, creio que esta sensação de ter algo que ainda não consegui expressar por completo me faz querer continuar.

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