Qual é a história de sua maior saudade?
Sinto saudades de quando morava perto do mar, das festas de São Cosme e Damião que aconteciam no bairro e das jabuticabas que eu colhia no meio do caminho. Isso foi lá em Seropédica (RJ), entre 1996 e 1997. Essa é a minha história de saudade mais fresca, parte de uma infância permeada de inúmeras migrações. Cravei os meus olhos no mar para não viver só do esquecimento.
O que a emociona em seu dia a dia?
Me emociona o atravessamento das coisas, como se eu fosse alguém de corpo muito aberto. E isso me comove, essa disponibilidade de sentir com intensidade aquilo que se apresenta.
Como você se imagina no amanhã?
Estou fabulando no agora, neste exato momento. Desejando construir um novo lugar de partida, mesmo que efêmero, que não seja impulsionado exclusivamente pelo trauma. Estou tentando descansar, vem e vai deito-me no quintal em pleno sol e digo a mim mesma – não tenha medo de ser tocada pelo sol, não tenha medo da luz. E eu sou alguém que acredita na magia, no sonho e naquilo que a gente entrega para o mundo, em um poder compartilhado que parte do nosso âmago. Me imagino junto com tudo o que tem vida.
Quem é Camila Fontenele?
Camila Fontenele é um nome que me deram, mas também uma história que tento desvendar. Eu sei que já fui baleia, deve ser daí a história do mar e do sabor da água salgada na boca, e que agora sou gente de muita carne. Gosto de dizer que sou alguém que vem de um invisível muito profundo. Um invisível que não é morto, que não é transparente. Um invisível muito vivo permeado de segredos, mistérios e nomes que transitam até a ponta da língua. Nomes que, talvez, nunca serão anunciados, pelo menos não neste mundo tempo-linear controlado em calendário de supermercado. Um invisível muito profundo que, muitas vezes, sente o visível ameaçado, mas que tem encontrado estratégias para continuar existindo – alguém que faz do Entre um Lugar possível. Eu estou em trânsito.
Um Certo Alguém
Em Um Certo Alguém, coluna mantida pela redação do Itaú Cultural (IC), artistas e agentes de diferentes áreas de expressão são convidados a compartilhar pensamentos e desejos sobre tempos passados, presentes e futuros.
Os textos dos entrevistados são autorais e não refletem as opiniões institucionais.