Atores da peça Felpo Filva dão dicas de livros infantojuvenis
07/04/2020 - 19:50
por Heloísa Iaconis
Cidade de Rapidópolis, Rua Despinhos, toca 88: nesse endereço mora Felpo Filva, coelho poeta, um tanto distraído e desligado, bicho do mundo da lua, dono de uma orelha mais curta que a outra. Ele vive criando versos que, apesar de bonitos, são tristes, tristes. E é esse tom pessimista que desagrada Charlô, fã do artista que, de modo audacioso, redige cartas nas quais sugere mudanças nos poemas. Dessa troca de correspondências surge em Felpo uma doçura até então desconhecida, narrativa feita em livro pela escritora Eva Furnari. Para o teatro, o texto ganhou adaptação de Marcelo Romagnoli: no palco, com direção de Claudia Missura, Marat Descartes e Gisele Calazans interpretam a dupla de coelhinhos em uma montagem que estreou em 2014.
De lá para cá, várias temporadas já aconteceram. Em abril, seria a vez de o Itaú Cultural (IC) receber a peça, atividade que, como o restante da programação presencial da organização, está suspensa. O distanciamento necessário agora, porém, não impede o contato do público com Felpo e Charlô: em uma conversa por telefone, o casal de atores Marat e Gisele contou ao site do IC sobre o processo de realização do projeto, além de dar dicas de obras para que as crianças leiam – com os responsáveis e em casa.
Tudo começou com uma ideia do produtor Fábio Santana: na escola, a sua filha foi apresentada a Felpo Filva e tanto gostou da trama que a mostrou para o pai. Fábio apaixonou-se pelo enredo e, maravilhado, pediu a Marcelo que transpusesse a literatura para as artes cênicas. Logo, Claudia assumiu a direção e ofereceu a Marat e Gisele os papéis. “A história evidencia o poder da comunicação: por meio de cartas, telegramas, receitas e demais gêneros, Charlô transforma Felpo”, comenta Marat. De coelho enclausurado, rabugento e tímido, o protagonista abre-se para o amor. E a coelhinha também se renova: percebe-se, enfim, autora, tão inventiva quanto o senhor Filva.
Dois anos após o início das apresentações, Fábio Santana faleceu e o grupo passou a se autogerir. “Ele produzia à moda antiga, estava absolutamente por dentro de cada detalhe e merece crédito total. A continuação da peça é uma forma de homenageá-lo”, salienta Gisele. Felpo uniu a equipe e fascinou a todos – dentro e fora de cena. “A mãe de uma das crianças que estudam com as nossas filhas assistiu ao espetáculo e me mandou uma mensagem. Ela escreveu sobre a sua identificação com os personagens e a importância do amor como possibilidade de saída das tocas. Não éramos próximas e trocamos mais mensagens depois. Foi um retorno bonito”, conta a atriz.
A paixão pela trajetória do coelho poeta fez com que Gisele Calazans e Marat Descartes buscassem outros títulos de Eva Furnari. “Com profundidade e leveza, Eva consegue abordar temas complexos. A partir de um olhar sábio, ela vê a infância de uma maneira bem-humorada e carinhosa, jeito expresso tanto em seus textos quanto em seus desenhos”, diz Gisele. Por ser admirador da escritora, o casal indica a leitura da obra de Eva como um todo: em tempos de isolamento, as crianças podem ter a companhia de várias criaturas encantadas e diversas. É o caso, por exemplo, de Drufs (2016), a primeira das quatro sugestões de livros infantojuvenis separadas pelos atores. Confira a lista a seguir.
Drufs (2016) – Os alunos da professora Rubi revelam umas coisinhas sobre seus parentes: há a família Zum, a Suflê, a Balum, a Ui e outras. Os relatos trazem aspectos sociais, sem, contudo, esquecer do riso que Eva Furnari bem sabe extrair do leitor. Ilustrada com dedoches, a obra é um tributo lindo à diversidade familiar.
Diários de Pilar (a partir de 2010) – Não se trata de apenas um livro, mas sim de uma série de volumes a respeito das viagens de Pilar. Em uma rede mágica, junto com o amigo Breno e o gato Samba, a menina conhece o mundo: os rios da Amazônia, as pirâmides do Egito, as montanhas de Machu Picchu, a princesa iorubá Fummi. Escrita por Flávia Lins e Silva, a coleção começou em 2010, com a publicação de Diário de Pilar na Grécia, número que narra a ida da pequena ao Olimpo.
Píppi Meialonga (1945) – Aos 9 anos, Píppi é forte e cheia de autonomia: órfã, mora sozinha, faz as próprias roupas e se alimenta de biscoitos, sanduíches e panquecas. Engana-se quem pensa que ela vive tristonha: alegre, destemida e esperta, a garotinha sempre tem respostas na ponta da língua. De autoria da sueca Astrid Lindgren, o título foi traduzido para mais de 70 idiomas.
Extraordinárias – Histórias de Mulheres que Revolucionaram o Brasil (2017) – Do século XVI até hoje, muitas foram e são as mulheres que lutaram por seus ideais e modificaram o Brasil – nas artes, na ciência, no ativismo. Alguns desses nomes foram reunidos por Duda Porto de Souza e Aryane Cararo no livro em questão.