Alexandre Ribeiro revela suas influências culturais
15/04/2019 - 16:50
por Heloísa Iaconis
Você, ele, ela, todo mundo carrega, por assim dizer, uma bagagem: um acumular de conhecimentos que vêm das mais distintas fontes, desde a educação formal até os saberes corriqueiros. No caso de um escritor, muito se questiona acerca de suas inspirações, minas d’água em que os criadores se banham para ressignificar ideias, sentimentos, conjunturas. Alexandre Ribeiro, ficcionista e responsável pela coluna Da Quebrada pro Mundo, sabe que listar referências é também um modo de mostrar o próprio percurso e, por vezes, celebrar e agradecer aos que antes vieram. E tanto fizeram.
Prestes a lançar o volume Reservado, a sua estreia no campo literário, num evento marcado para o dia 24 de abril, no Itaú Cultural, Alexandre aproveita a oportunidade para revisitar potências que lhe são caras. A seguir, o repertório relembrado, o qual, nas entrelinhas, sublinha quem é o jovem prosador de 20 anos – e o que ele almeja.
Veja também:
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[LIVRO]
Niketche – uma História de Poligamia (2002), de Paulina Chiziane
Conheci a obra de Paulina Chiziane quando fui para a África. No caso deste livro, há o olhar de uma mulher moçambicana e a relação dela com a poligamia do marido. Vale observar que a autora tinha quase 50 anos na época em que o título foi publicado. É uma percepção materna dos problemas do mundo e, em especial, da sociedade em que ela vive.
[DISCO]
Cartola (1976), de Cartola
Costumo falar, meio que brincando, que Cartola é a definição do “violentamente pacífico”: ele traz, em seu trabalho, a realidade dura e os sofrimentos nacionais sem, no entanto, perder a sua poética.
[CLIPE]
"Cold Little Heart" (2016), de Michael Kiwanuka
Esta canção e este clipe entram no mais profundo de mim, no cerne do que me é humano, e me mostram que a musicalidade pode nos levar para outras dimensões. Destaco ainda a fotografia incrível do vídeo, bem como a maneira com que os corpos pretos estão ali presentes.
[FILME]
Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert, e Escritores da Liberdade (2007), de Richard LaGravenese
Posso indicar mais de um? O primeiro é Que Horas Ela Volta?. Vivi muito o que está nesse filme: a minha mãe é diarista e trabalha em casas de madames. Por isso, eu me vejo na Jessica. A segunda dica é Escritores da Liberdade, longa baseado em fatos reais: uma professora tenta mostrar o poder da escrita aos alunos de um colégio localizado em um gueto norte-americano. Esse enredo representa aquilo em que mais acredito: o escrever como ferramenta de liberdade, para a liberdade.
[PEÇA DE TEATRO]
Isto É um Negro? (2018), de Tarina Quelho
Este é o espetáculo de que mais gostei. Assisti quando esteve em cartaz, em junho de 2018, no Itaú Cultural. Na ocasião, escrevi um texto a respeito da peça, uma obra que consegue retratar bem o que é ser negro no Brasil. É bastante precisa, potente e tem uma riqueza enorme de detalhes.
[CIDADE NO BRASIL]
Salvador (BA)
A minha cidade favorita no Brasil é Salvador. Para mim, a capital baiana possui um valor afetivo, pois foi onde conheci a minha companheira. Ela é alemã, nós nos conhecemos em Salvador e, desde então, mantemos um namoro a distância há uns dois anos. Em 2019, aliás, irei para a Alemanha.
[LUGAR EM SÃO PAULO]
Sarau da Cooperifa (Bar do Zé Batidão – Rua Bartolomeu dos Santos, 797, Jardim Guarujá)
O Sarau da Cooperifa, na Zona Sul de São Paulo, é o berço de tudo o que me fez humano. Foi lá que me enxerguei como escritor: um lugar representativo e que mantém a mesma essência de quando começou.
[ESCRITORA]
Carolina Maria de Jesus (1914-1977)
A minha escritora preferida é Carolina Maria de Jesus. Já li Quarto de Despejo (1962) e Diário de Bitita (1982) e adoro os dois. Carolina é uma grande inspiração para mim.
[ESCRITOR]
Douglas Adams (1952-2001)
Ele é o autor de O Guia do Mochileiro das Galáxias (1979), livro de que gosto muito, pois me iniciou no universo de uma leitura que não é chata, e sim divertida. Eu me inspiro em Douglas Adams porque desejo que aquilo que escrevo seja um abraço, não algo que chegue ao leitor como uma obrigação.
[FEIRA LITERÁRIA]
Felizs – Feira Literária da Zona Sul
A Felizs é um evento literário na Zona Sul de São Paulo, a maior feira no quesito duração (duas semanas). Os organizadores são heróis e heroínas nos quais me espelho e que me serviram de incentivo para publicar o meu romance de forma independente. Há o Sarau do Binho lá também. Sonho em participar da Felizs como autor.
[MOMENTO DA LITERATURA BRASILEIRA]
O agora
Não existe momento melhor do que o agora para fazer as coisas. Faço parte de uma geração que entendeu que as editoras estão quebrando e estão quebrando devido ao fato de que sempre foram homogêneas, formadas, em sua maioria, por homens mais velhos, brancos, heterossexuais. A gente está querendo quebrar essa ideia de que o livro está acabando. O que está terminando é certo monopólio. A literatura nunca esteve tão viva nas periferias da cidade.