Camila Svenson
Estou na Praia de Copacabana sentada em cadeiras vermelhas de plástico. Na minha frente, um homem de chapéu largo de cor neon tenta pescar. Fixa com dedicação duas varas prateadas no chão de areia e se senta ao lado; esperando pacientemente por algum peixe indeciso que possa estar passando sem querer pelo mar mais turístico do Brasil.
Lembro do meu pai quando era criança – indo pescar no Pantanal.
O Pantanal tem cheiro de sangue e cor vermelha viva.
As piranhas roem os olhos de viajantes desavisados, comendo seu choro por dentro. Meu pai ia para o Pantanal e voltava barbudo como se fosse outra pessoa. Minha mãe dizia que eu nunca o reconhecia quando chegava em casa, mas o congelador cheirava a peixe fresco embalado no jornal.
Lucas Cordeiro
O vazio mais próximo que sinto agora é cheio.
O que corta, o que não é esvaziado de formas, nem mesmo aquele que surge
de primeiro em nossas mentes quando pensamos no vazio.
Mais um vazio cheio de garras, garras verdes e amarelas, um falso abraço vazio.
Quem nunca se sentiu acariciado por um abraço que parecia caloroso, mas
estava vazio tal qual um jarro seco, sem água e sem vida?
A visão engana, é um sentido falho. Já experimentou ver com os olhos fechados?
O vazio gerado pelo abandono do Estado brasileiro não é tão deleitoso quanto o vazio
budista, esvaziar a mente parece algo distante da realidade de quem está aqui experienciando
esse abraço.
Como esvaziar de formas a cabeça, sendo que as garras estão ali ao nosso lado, afiadas e sempre, sempre dispostas a atacar?
Ainda sonho que os meus possam se deleitar num vazio funfun, mas aqui o vazio ainda é doloroso e cheio de formas.
Em Inventário, dois fotógrafos recebem, todo mês, uma palavra diferente e são convidados a transformá-la em imagem e texto.