Lucas Cordeiro

Fotografia horizontal colorida de um homem negro de cabelo curto e camiseta branca da cintura para cima na sombra de um coqueiro em frente a uma parede branca com textura. Ele olha para o lado direito e para baixo.
(imagem: Lucas Cordeiro)

Amor já me disseram;
“O nosso amor, da cor do azeviche da jabuticaba e da cor da luz do sol”, Caetano Veloso
“Seu amor é bom, É lindo demais, mais. Seu amor me traz a paz”, Calcinha Preta
“Te amo, desgraça”, Baco Exu do Blues
“We found love in a hopeless place”, Rihanna
Amo você.

Camila Svenson

Fotografia vertical colorida de uma lavanderia, com tanque branco preso na parede. Há um varal com roupas e um lençol branco estendido. No chão há um balde azul escuro. Um feixe de luz entra pela lateral superior direita.
(imagem: Camila Svenson)

É realmente impressionante pensar que massa de macarrão é composta de farinha, água, sal e ovo. Tem que misturar e enrolar em um papel plástico para descansar, mas eu não sei o porquê. Quando a massa está descansada o suficiente, você coloca ela dentro de uma máquina prateada, de manivelas que brilham. Essa máquina achata a massa o suficiente para se fazer uma lasanha.

Lasanhas podem ser feitas em pequenas cozinhas. É bom conhecer uma pessoa pela primeira vez. Uma dedicação constante em observar tudo o que pode existir nas prateleiras e ainda não se sabe. Um pilão de pedra, por exemplo, ou uma árvore desengonçada; pé de milho.

Conhecer uma pessoa pela primeira vez é observar a dobra das camisetas, e a escolha de um amaciante sem cheiro. Como a pessoa troca a marcha de um carro, como faz a curva, como bola um cigarro colocando tabaco demais dentro do papel. Onde fica a escova de dentes, onde mora o carregador de celular, alguns CDs jogados no banco de trás (objetos obsoletos para a virada da década). Músicas de corrida que não combinam com a atividade para a qual foram designadas.

Conhecer uma pessoa pela primeira vez é prestar atenção na coleção de palavras favoritas: trem, normalmente, abacate, chá, madeira, bicicleta, claudionor. Existem palavras que a gente herda de vidas passadas, e continua falando elas pra sempre. As palavras aos poucos perdem a memória, igual certas calcinhas. Igual ímã de geladeira.

Conhecer uma pessoa pela primeira vez é igual virar explorador de uma nova cidade. Um pequeno restaurante coreano de portas corrediças, amontoado de arroz e tempestades torrenciais de céu escuro e vento forte. Houve um alagamento na avenida nove de julho e parecia uma piscina de ondas, dessas artificiais feitas pra gente pensar que ganhou na vida. Mandacaru, azulejos amarelos e um simpático cachorro cor de palha. Frango e baião de dois. Conhecer uma pessoa pela primeira vez é definitivamente conquistar um novo bar. Construções maiores que a escala humana e certos diagramas que eu nunca vou entender.

Nesta semana fiz uma compra espontânea de quiabos cor-de-rosa, não tenho ideia como prepará-los. Soube também de um condomínio de casas onde será construída uma piscina de ondas perfeitas. As ondas funcionarão 24 horas por dia. Tenho caminhado um pouco mais devagar, entendendo que o silêncio que acontece entre uma frase e outra às vezes não é sinal de constrangimento.

 

Em Inventário, dois fotógrafos recebem, todo mês, uma palavra diferente e são convidados a transformá-la em imagem e texto.

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