A partir de imersões no nosso acervo de obras de arte, propomos, aqui no site e no Instagram, pequenos encontros com artistas por suas obras. A série Interiores faz parte dessas publicações e é dedicada a obras que retratem os espaços internos de suas casas, ateliês etc.

Marepe

Embutidinho, 2001
madeira e dobradiça, 4/5
70 x 70 x 70 cm
Acervo Banco Itaú
Foto: Iara Venanzi/Itaú Cultural

por Duanne Ribeiro

A ideia veio de um sonho. Nele, Marcos Reis Peixoto, o Marepe, escutou alguém dizer: “Nesta casa, quando se move um objeto, todos os outros se movem junto”. Pensemos sobre a frase: tudo se passa como se houvesse uma relação profunda entre cada coisa no espaço. A mesa próxima a você não está só, está à esquerda ou à direita de uma estante, de um sofá, e cada posição é essa rede de relações – mude uma posição, mudará toda a rede de relações. Se pudermos acreditar nisso, talvez nos ajude a entender como vieram do sonho os embutidos.

O primeiro Embutido surgiu em 1999, uma construção de madeirite, dobradiças e raio de metal com 3 metros de largura, 3 de comprimento e 2 de altura – uma espécie de grande caixa com “janelas”, que lembra uma casa feita com material simples. Depois, Marepe apresentou os Embutidinhos, similares ao anterior, mas em formato reduzido e mais interativos, deixando várias possibilidades de manejo a quem tem contato com a obra. Constituem a série Embutidinho cinco obras; no topo desta matéria, apresentamos uma delas, produzida em 2001.

Nesse Embutidinho, vemos uma casinha: janelas, mesa, porta – tudo aquilo em que cabemos, que nos engloba, condensado ao alcance da visão, tornado microcosmo. Vendo dessa forma, pode ficar mais claro que qualquer mudança ou deslocamento altera completamente o que é esse pequeno mundo. A escala diminuta deixa ver que há ali uma estabilidade própria.

Em 2003, aparece a obra Embutido Recôncavo, descrita assim em Marepe: Arte Contemporânea do Recôncavo para o Mundo, artigo de Juciara Maria Nogueira Barbosa:

“A obra [...] (assim como as outras da série) pode ser vista como metáfora da própria globalização, representada como uma casa onde tudo está interligado e pode ser reordenado de diversas formas, porém ao se mover uma única peça, toda a estrutura se altera, sugerindo ao observador novos significados e novas maneiras de ver. A aldeia global torna-se uma casa sem teto (onde todos encontram-se, portanto, desprotegidos) e o que ocorre em países diversos (cômodos diversos) afeta, de maneira mais marcante ou branda, toda a estrutura mundial (toda a casa). Tudo pode ser visto de diversos ângulos, a depender da posição do observador, que pode ser ativo e participante, interferindo diretamente no processo, ou pode ser passivo, mero espectador, mas ainda assim integrante e suscetível às alterações, às mudanças”.

Com esse comentário, o que vínhamos pensando antes pode agora ser transportado para o macrocosmo: Juciara fala da globalização, indicando assim que países, economias, culturas e tudo mais está embutido no mundo; e, quando algo ou alguém se move, o mundo se move junto.

Marape é artista visual. Estudou desenho e artes plásticas na Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde, em 1992, se torna professor da Escola de Artes Plásticas. Realizou exposições no Brasil e no exterior. Saiba mais na Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras.

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