por Camile Busato

Muito antes de existir o Brasil, o Paraguai e a Argentina, povos guaranis habitavam o território que hoje é dividido pela Tríplice Fronteira – limite territorial e político que separa as cidades de Foz do Iguaçu, no Brasil, Puerto Iguazu, na Argentina, e Ciudad Del Este, no Paraguai. Tendo como ponto de partida esse território simbolicamente fragmentado, o dramaturgo brasileiro Diego de Angeli Souza propõe um diálogo com o historiador paraguaio Damián Cabrera, o crítico argentino Fabian Dias e com guaranis da região da fronteira, do Espírito Santo, no Brasil, e de Assunção, no Paraguai. A ideia é costurar narrativas que investiguem o território físico e metafísico daquela região.

Registro de viagem feito pelo celular
Registro de viagem feito pelo celular

 

“O projeto consiste, de alguma maneira, em um diálogo. Um dos grandes protagonistas é a terra, as noções sobre o território, seus usos e sua gente”, explica Diego de Angeli Souza. O produto desse encontro será um livro que reunirá textos, entre artigos e ensaios, que serão também a resposta que cada interlocutor vai dar a partir de sua área de atuação. Diego vive em Buenos Aires, onde completou mestrado em dramaturgia e lá pratica aulas de guarani para escrever uma peça que integrará a publicação.

“A questão da língua é muito importante no projeto. O texto teatral é escrito para ser falado e meu interesse por esses encontros culminam também como sonoridade. O português, o espanhol, o portunhol, o guarani, o jopará. Essa convivência entre os idiomas cria uma ‘língua de fronteira’, ampla e incerta, por um lado – porque não respeita as gramáticas e tem muitas possibilidades – mas, por outro, muito precisa no desejo de expressão daqueles que a usam. É um campo aberto à investigação e à experiência de outros sentidos”, completa Diego.

Registro de viagem feito pelo celular
Registro de viagem feito pelo celular

 

Selecionado Rumos 2015-2016, o projeto A Tríplice Fronteira, La Triple Frontera ou Yvi Maraey está atualmente na etapa de produção da viagem pela região da fronteira. Além das aulas de guarani, a primeira fase consistiu em identificar as diferentes visões de cada um dos envolvidos sobre o outro e sobre si mesmo por meio de correspondências, ideias e provocações entre os integrantes. O próximo passo é fazer a imersão pelos territórios e, por fim escrever, o material.

“Atualmente vivemos um momento de ruptura democrática em que o diálogo entre as diferenças está tão complicado que a proposta do projeto parece até um sintoma. Estou me preparando para uma viagem de imersão e, se tudo correr bem, pretendo morar na região por um tempo para escrever o material. Ao final de tudo, cada um vai responder a esse processo com um texto. O livro é a reunião de todos esses textos, é um diálogo”, conta Diego.

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