Por Carlos Costa
Você já parou para pensar se os conceitos que norteiam seu pensamento foram impostos e contribuem para perpetuar uma realidade excludente, que privilegia os grupos econômicos detentores do poder?
O artista visual e pesquisador Bruno Moreschi parou para pensar nisso e resolveu produzir trabalhos que questionam os padrões e as regras do universo das artes. Um exemplo é o projeto selecionado para o Rumos Itaú Cultural 2015-2016: Mapa (de Homens) da História (Branca) da Arte (Eurocêntrica), que em seu desenvolvimento mudou de nome e agora se chama A HISTÓRIA DA _RTE. “Assim mesmo, em caixa alta e sempre com algum ruído visual problematizando o ‘A’ da arte”, explica Moreschi.
O ponto de partida foi a constatação de que a história da arte estudada no Brasil e na maioria dos países é constituída, majoritariamente, por homens brancos europeus ou estadunidenses. Por isso, Moreschi propôs a criação de um mapa/panfleto dobrável que revela, de forma objetiva, como se apresenta a história da criação artística; além de um site experimental que mostrará de diversas formas os dados colhidos na pesquisa.
Para desenvolver o projeto, foram selecionados os 11 livros mais utilizados como bibliografia nas ementas de disciplinas de cursos livres e universitários de história da arte no contexto brasileiro.
O grupo de pesquisa, encabeçado por Moreschi, que é homem e branco, reúne 12 pessoas: a arquiteta Amália dos Santos, o pesquisador em midialogia Gabriel Pereira, o designer Guilherme Falcão, o hacker Capi Etherol, o urbanista Pedro Vara, a curadora Ananda Carvalho e as produtoras Marcela Amaral, Laura Maringoni e Mônica Novaes. Há ainda um conselho editorial formado pelas professoras Vera Benedito, Claudia Valladão e Caroline Freitas. “Criamos um conjunto multidisciplinar e com voz ativa”, conta Moreschi.
Apresentadas no formato de tabela, foram levantadas as seguintes informações sobre os artistas citados nos 11 livros: anos de nascimento e morte; onde nasceu, trabalhou e morreu; gênero; raça; e técnica principal utilizada. “Nas categorias ‘gênero’ e ‘raça’, a equipe do projeto apenas indicou quando eram mulheres e/ou negras, negros, tentando dar visibilidade a esses grupos que são parte da minoria desses livros, mas deixando um espaço para que novos grupos sejam futuramente contabilizados”, explica Moreschi.
“Apesar de sabermos que a exclusão existe, não imaginávamos que ela fosse tão grande: dos 2.422 artistas citados nos livros, apenas 207 são mulheres e 21 são negras e negros”, comenta a curadora Ananda Carvalho.
Na criação do panfleto, a equipe procurou “dar visibilidade às informações que normalmente não aparecem, listando, por exemplo, o nome de todas as mulheres, negras e negros citados nos livros e produzindo um mapa dos países que não têm artistas citados”, relata Ananda.
Todo o material sistematizado (tabelas, infográficos e mapas) será disponibilizado de forma gratuita na rede. E os panfletos estarão em português e em inglês.
No currículo de Moreschi, outro trabalho contesta o mundo das artes visuais. Entre 2012 e 2014, ele produziu um simulacro de enciclopédia contemporânea, Art Book, com biografias, imagens de obras e declarações de 50 artistas – inventados a partir de clichês encontrados em outras dez enciclopédias. Atualmente, exemplares estão espalhados em bibliotecas de museus e centros culturais problematizando a história da arte oficial.