Fundado em 1986 por Luiz André Cherunini, Sandra Vargas e Miguel Vellinho, o Sobrevento é um grupo profissional de teatro que, além de 20 espetáculos em seu repertório, tem um histórico de dedicação à pesquisa teórica e à prática de animação de bonecos, formas e objetos.
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Selecionado no Rumos 2013-2014, o grupo se prepara agora para a criação de um espetáculo inédito, que será construído a partir do intercâmbio com três das mais importantes e representativas companhias internacionais de teatro de objetos: Theatre de Cuisine (França), La Gare Central (Bélgica) e Casa Degli Alfieri (Itália).
Cada uma delas foi escolhida com base em um tipo de contribuição: Christian Carrignon, do Theatre de Cuisine, dedica-se à pesquisa teórica e aos princípios técnicos específicos; Agnés Limbos, da La Gare Central, foca-se no trabalho do ator e da dramaturgia a partir da relação entre ator e objeto; e Antonio Catalano, da Degli Alfieri, aprofunda-se na questão da subjetividade, na medida em que nesse tipo de teatro algo concreto, figurativo, ganha um novo significado.
Segundo o projeto Teatro de Objetos: Desumanização nas Grandes Cidades, as companhias visitam São Paulo e realizam cada um delas quatro apresentações, um curso público aberto a artistas de todo o país e uma residência artística para pesquisa junto ao Sobrevento. A companhia belga foi a primeira a chegar ao Brasil – além das oficinas e dos intercâmbios criativos, apresentou o espetáculo Ressaca. O próximo a se apresentar será o italiano Antonio Catalano, que encenará a peça Tic Tac Tic Tac – nela, por meio de objetos do cotidiano, de pinturas e pequenas esculturas é abordada a passagem do tempo.
“Os intercâmbios internacionais nesse campo tornam-se uma ferramenta essencial para a circulação de ideias, o desenvolvimento artístico e a reciclagem de artistas. No Brasil, apesar de haver grande movimento de teatro de animação, não existe uma escola especializada”, destaca o grupo.
O Sobrevento pesquisa o teatro de objetos há quatro anos. Com as contribuições das companhias internacionais e o apoio do Itaú Cultural lançará ainda em 2015 o espetáculo que tem como tema a desumanização nas grandes cidades. De forma poética, sutil e delicada, a peça caracteriza-se como uma crítica irônica e cruel de nosso cotidiano, que achata as diferenças e não leva em consideração as individualidades.
Segundo o grupo, a narrativa gira em torno de questões como O que somos e no que nos transformamos? Arrastados por uma corrente, temos de seguir em uma mesma direção e em um mesmo sentido, com um pensamento único, sem discordância, sem escolha. De repente, alguma coisa pode nos lembrar que isto não é assim, não deveria ser assim e não precisa ser assim. Poderemos voltar a ser o que somos ou o que nunca fomos?”.
O teatro de objetos.
A essência desse tipo de linguagem está em utilizar objetos deslocando-os de seus significados, mas sem transformar, no entanto, sua natureza, valendo-se para isso do uso de metáforas, símbolos e associações de ideias. Tendo como fundamento essa proposta, no teatro de objetos, o jogo da animação, da manipulação, descola-se da ideia de virtuosismo e pode tanto lembrar brincadeiras de criança ou fantasias alucinadas quanto simples ilustrações de uma narrativa.