Obra: Tradição Improvisada
Selecionados: Thomas Rohrer e Nelson da Rabeca
Nelson dos Santos trabalhou nos canaviais de Marechal Deodoro, em Alagoas, até os 50 e poucos anos de idade. Sem ter onde morar e ganhando apenas o suficiente para comer, teve a vida completamente transformada quando viu pela TV um homem tocando violino. Com o mesmo facão que usava para cortar cana, decidiu fabricar um instrumento semelhante: a rabeca, muito popular no interior do país. Começava ali a sua “bênção” artística, que o transformaria em Nelson da Rabeca, luthier e rabequeiro reconhecido nacionalmente.
Bem distante de Alagoas, foi na Suíça que nasceu o músico Thomas Rohrer. Em 1995, por causa de uma namorada, ele resolveu passar um ano no Brasil, onde mantém residência até hoje, em São Paulo. Entusiasta da improvisação, encantou-se com a música regional brasileira e logo conheceu, por intermédio do maestro Zé Gomes, a rabeca. Ao ouvir pela primeira vez o som produzido por Nelson, Thomas ficou fascinado e decidido a comprar um instrumento fabricado por ele. O desejo se concretizou em 1999, quando o alagoano se apresentou na capital paulista e o suíço, além de adquirir duas rabecas, conseguiu conhecê-lo pessoalmente.
O contato e a amizade entre os dois se tornaram mais intensos a partir de 2004, nas idas de Thomas até Marechal Deodoro ou nas participações de Nelson em projetos do suíço, como em apresentações dos grupos A Barca e Ponto BR. Nesses encontros, eles passavam horas tocando, experimentando, trocando experiências.
“Ele tocando as músicas dele, eu tocando junto. O seu Nelson sempre muito curioso, observando o que eu estava fazendo”, relata Thomas, que tem um trabalho focado na busca por expandir as possibilidades sonoras não convencionais do instrumento.
Da vontade mútua de mostrar ao público o que acontecia ali surge o projeto Tradição Improvisada, selecionado pelo Rumos e que já gerou concertos em Alagoas, no Ceará, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A apresentação é dividida em três partes: na primeira, seu Nelson exibe xotes, forrós e marchas acompanhado pela voz de sua mulher, dona Benedita; na segunda, é a vez de Thomas exercitar a improvisação ao lado do percussionista Antonio Panda Gianfratti, fundador do Coletivo Abaetetuba, do qual também faz parte; na terceira parte, o encontro dos quatros de fato acontece, com a tradição de seu Nelson visitando o improviso de Thomas e vice-versa. Sim, porque nesses mais de dez anos de contato o rabequeiro alagoano – que, como mencionou o suíço, é extremamente curioso – também vem se arriscando, de forma muito espontânea, a sair dos elementos tipicamente nordestinos e improvisar.
Tradição Improvisada já deu tão certo que shows fora do país são vislumbrados. Também está previsto para este ano o lançamento de um CD.
Conheça aqui um pouco mais sobre o projeto.