[Este texto integra uma série de relatos produzidos pela equipe de atendimento educativo do Itaú Cultural (IC). Nesses relatos, cada educador comenta sua experiência relacionada a uma exposição apresentada no IC, destacando três das obras presentes na mostra.]

por Vitinho

O recorte da vez é sobre Vladimir Herzog, lembrado por muitos como um jornalista completo, apaixonado por cinema e fotógrafo da família. Neste texto explorarei seu olhar singular, que não apenas era sensível à paisagem social e a seus problemas, como também possuía o ímpeto de materializar suas observações através de diversas mídias, a ponto de instigar outras pessoas a se envolverem para refletir. A 46a edição do programa Ocupação, que homenageou Herzog, e ficou em cartaz em 2019 no Itaú Cultural, pode ser conferida aqui.

Nascido em 1937 em Osijek, na Iugoslávia, atual Croácia, naturalizou-se brasileiro em 1947. Antes de sua entrada no jornalismo, entre 1949 e 1952, Herzog empregou-se por um curto período em uma Fotóptica e iniciou sua formação no teatro pelo Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro. No ano de 1955, integrou-se a dois grupos de teatro amadores: Muse Italiche e I Guitti. Em 1962, graduou-se como bacharel em filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL/USP) e, no mesmo ano, foi convidado para cobrir o Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, em seguida ingressando no curso de produção e direção cinematográfica ministrado por Arne Sucksdorff. Com essa breve descrição cronológica, percebemos o interesse de Herzog em diversas áreas de expressão. 

Vlado, ainda que não tenha exercido a atividade profissional de fotógrafo, era visto frequentemente com sua câmera fotográfica analógica. Seu olhar era dividido entre a família e a paisagem, sendo uma característica muito presente em suas fotografias a presença humana em determinado local. Mesmo nas fotos em que há uma pessoa enquadrada, a paisagem está a seu redor.
 

Fotografia de Vladimir Herzog (imagem: Divulgação)

O curta-metragem Marimbás, com direção e roteiro assinados por Vlado, tinha a dimensão de seu envolvimento com o outro. Conduzido inicialmente por seu interesse pela pescaria, ele escolheu realizar o curta no Rio de Janeiro, acompanhando a realidade dos trabalhadores da colônia de pesca em Copacabana. Marimbá “vive da pesca, não é pescador”, como diz o subtítulo; tratava-se de pessoas que moravam em canoas na praia e viviam dos restos de peixes que os pescadores profissionais deixavam, mostrando a precariedade de seu cotidiano em contraponto com os banhistas de classe média que se encontravam a poucos metros tomando sol ou fazendo ginástica. 
 

Imagem do filme Marimbás, dirigido por Vladimir Herzog (imagem: Divulgação)

Como naquele período não havia recursos técnicos variados, o curso de produção e direção cinematográfica ministrado por Sucksdorff lhe proporcionou estudar uma novidade: uma câmera que captava o som direto, ou seja, o som era obtido simultaneamente com a filmagem. Essa noção técnica combinou com a proposta de Vlado. Seu curta-metragem é a expressão de as pessoas falarem por si e de si mesmas, concebendo a liberdade de expressão que Herzog também defendia como jornalista, levando as pessoas como coprotagonistas nesse cinema que conta a realidade da história do Brasil, respeitando lugares de fala. 

Herzog estava ligado a áreas diversas; seu envolvimento era conduzido por sua paixão e seus princípios. Antes de seu falecimento, Vlado, como diretor da equipe de jornalistas de A Hora da Notícia, jornal da TV Cultura, planejava uma reestruturação no cenário televisivo que propusesse um confrontamento da desinformação, partindo da educação, no sentido de acessibilizar e engajar o outro a se sentir protagonista. 
 

Espaço da Ocupação Vladimir Herzog, em cartaz em 2019 (imagem: André Seiti)

“Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados.” É com essa fala de Herzog que percebemos a pessoa por trás desse jornalista cultural completo, crítico de cinema, apaixonado por fotografia, rigoroso com as fontes de apuração, que reforça sua consideração ao outro, e seu engajamento em se expressar e se envolver, convidando a todos a fazer o mesmo. 

Sobre mim

Meu nome é Vitinho, sou uma pessoa trans e tenho 22 anos. Sou formado em artes visuais como bolsista pelo Centro Universitário Belas Artes. Atualmente, sexólogo em formação. Sou educador no Itaú Cultural desde 2019. 

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A imagem mostra obras de tamanhos variados. A mais alta, no centro, tem aproximadamente 1,80 m. Todas as criaturas são pintadas de preto, com olhos vermelhos e nariz e orelha pontudos e distorcidos.

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Educador do Itaú Cultural comenta três obras que estavam presentes na exposição sobre o Véio, que aconteceu em 2018