Por Cassiano Viana
Realizado a cada três anos no Itaú Cultural, o Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo consolidou-se, ao longo dos anos, como um dos mais importantes espaços de reflexão e difusão da fotografia que se faz na e sobre a América Latina.
Durante cinco dias, fotógrafos, críticos, pesquisadores e curadores de diversas nacionalidades, mas que atuam em rede, têm a possibilidade de discutir a produção fotográfica contemporânea latino-americana, trocar experiências e, muitas vezes, viabilizar projetos.
O evento é um dos responsáveis pela grande interação que se vê hoje entre os produtores de fotografia na América Latina. Herança dos Colóquios Latino-Americanos de Fotografia realizados no fim dos anos 1970 e no início dos anos 1980, pelo Centro da Imagem, no México – os quais reuniram fotógrafos e pesquisadores com o intuito de debater uma possível identidade da fotografia latino-americana –, a primeira edição do fórum de São Paulo, em outubro de 2007, teve como objetivo incluir o Brasil no network latino-americano de fotografia. E também, claro, a América Latina no network brasileiro.
"Naquela época, o Brasil vivia de costas para a América Latina. Não nos sentíamos latino-americanos entre os fotógrafos e não existia uma fotografia latino-americana que incluísse nosso país", lembra Iatã Cannabrava, organizador do fórum.
A primeira edição do evento – que teve como tema Paralelos e Meridianos da Latinidade – contou com 72 convidados, de 15 países, e com a premissa de debater políticas públicas que fomentassem a produção fotográfica na América Latina, tratando de temas como as fronteiras da fotografia documental, os paradigmas do mercado de arte e os circuitos latino-americanos de fotografia.
Entre os participantes estavam o fotógrafo britânico Martin Parr e a norte-americana Susan Meiselas, ambos da agência Magnum, a americana Brenda Keannelly, a peruana Milagros de La Torre, o hispano-mexicano Pedro Meyer, o argentino Marcos López e os brasileiros Miguel Chikaoka, Miguel Rio Branco e Boris Kossoy.
A segunda edição do fórum, realizada em outubro de 2010, abordou o tema Fora de Casa, Fora do Eixo – Exílios e Migrações na Fotografia e debateu a percepção da identidade nacional. Foram realizadas as primeiras leituras de portfólio, workshops, mesas de debate e entrevistas com nomes como o espanhol Joan Fontcuberta, o guatemalteco Luis González Palma, o italiano Paolo Gasparini, a brasileira Claudia Andujar, o cubano Abelardo Morell e o norte-americano Alec Soth.
"O Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo tem sido desenvolvido e se consolidado como uma plataforma ampla e importante do Itaú Cultural com a fotografia no contexto da arte contemporânea. O encontro de representantes de vários países e as diversas atividades oferecem ao público, a fotógrafos e a estudiosos a oportunidade de conhecer mais sobre a produção e diferentes acervos, bem como compartilhar reflexões e aproximar produtores, artistas e instituições para possíveis projetos e contribuições", avalia Sofia Fan, gerente do Núcleo de Artes Visuais do Itaú Cultural.
A terceira edição do fórum, em outubro de 2013, trouxe o tema Sociedade/Classes/Fotografia, debatendo temáticas que iam da identidade ao consumo, passando pelas questões de tradição, representação e poder. Naquele ano também foi realizada, com muito sucesso, a exposição Fotonovela, além do primeiro encontro de gestores no fórum.
Entre os participantes do evento estavam os brasileiros Eustáquio Neves e Rosangela Rennó, a chilena Paz Errázuriz, a mexicana Graciela Iturbide, o canadense Christopher Anderson, o venezuelano Nelson Garrido e o catalão Txema Salvans.
Consolidação
A quarta edição do fórum, neste ano, tem como tema A Fotografia como Pensamento e contará com uma intensa programação: entrevistas com grandes pensadores da imagem – como o colombiano Oscar Muñoz, o sul-africano Adam Broomberg e o inglês Oliver Chanarin –, mesas de discussão, nas quais serão debatidos temas relevantes para a comunidade fotográfica latina, 576 sessões de leitura de portfólio, workshops de imersão criativa e grupos de trabalho cujo objetivo é consolidar uma rede permanente de fotografia latino-americana.
"Queremos que o fórum materialize um legado consistente para a fotografia na América Latina. O principal papel do evento sempre foi romper fronteiras. Ao longo dos anos, consolidamos uma rede de relacionamentos, colocando os protagonistas da fotografia latino-americana em contato com outros autores, autores com editores, curadores, instituições", diz Iatã. "A internet ajudou a acelerar o processo, mas o momento agora é de transformar essas redes virtuais em redes efetivas, inclusive economicamente."