Editor do blog About Light, Cassiano Viana tem conversado com fotógrafos residentes em diversos países sobre os impactos, as transformações e o cotidiano durante a crise mundial da covid-19. “Não é sobre técnica ou sobre o ato de fotografar em si. É muito mais uma correspondência com pessoas de diferentes realidades e que têm o olhar, a observação e o registro através de imagens como meio de expressão e forma de materializar os sentimentos nestes tempos de isolamento”, explica Viana.

Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 11
Ilana Goldsmid  – Jerusalém, Israel
A quarentena de uma “solitária por natureza”

por Cassiano Viana

Os primeiros casos de covid-19 em Israel foram confirmados no dia 21 de fevereiro de 2020, quando passageiros que viajavam em um cruzeiro pelo Japão foram diagnosticados e repatriados. 

Veja também:
>>
Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 1: China
>>Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 2: França
>>Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 3: Alemanha
>>Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 4: Itália
>>Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 5: Espanha
>>Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 6: Brasil
>>Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 7: Portugal
>>Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 8: Áustria
>>Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 9: Inglaterra
>>Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 10: Estados Unidos

Então, Israel começou a aplicar o distanciamento social. As reuniões foram restritas e, no dia 19 de março, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou estado de emergência nacional. Os israelenses não tinham mais permissão para deixar suas casas, a menos que fosse absolutamente necessário, e estabelecimentos foram fechados. Templos religiosos, inclusive. 

Pela primeira vez na história, a sinagoga de Jerusalém permaneceu fechada durante um Shabat, por conta da pandemia.

Pela primeira vez na história, a sinagoga de Jerusalém permaneceu fechada durante um Shabat, por conta da pandemia (imagem: Ilana Goldsmid)

A fotógrafa carioca Ilana Goldsmid chegou a Israel em agosto do ano passado. “Lembro que no fim de semana que começaram a falar sério com a população eu estava a caminho da casa de um amigo, no Norte do país”, recorda. “Os responsáveis pelo centro de imigração ligaram avisando que estava proibida a entrada de estranhos na cidade, em razão do vírus. Mas eu já estava a caminho e fiquei mesmo assim”, conta. 

No sábado, a comunicação governamental ficou mais séria e Ilana decidiu voltar no primeiro trem para Israel, antes que começassem a suspender o transporte intermunicipal. “No domingo, fiquei com minhas sobrinhas, para minha irmã trabalhar em home office. Era o primeiro dia das escolas fechadas”, lembra. “Depois disso, passei um bom tempo sem vê-las, apesar de elas morarem a cinco quarteirões da casa dos meus pais.” 

Desobediência

A quarentena em Israel, segundo Ilana, não foi seguida com disciplina pela população local, apesar do toque de recolher e da obrigatoriedade do uso da máscara. “Houve desobediência nas localidades ortodoxas, onde o percentual de infectados ficou muito acima da média, o que levou a regras específicas para essas localidades e atuação ativa da polícia”, lembra. “A máscara é obrigatória, sendo a falta dela sujeita a multa, o que dói no bolso – embora a maioria use, vi várias pessoas sem”.

A quarentena em Israel, segundo Ilana, não foi seguida com disciplina pela população local, apesar do toque de recolher e da obrigatoriedade do uso da máscara (imagem: Ilana Goldsmid)

Ilana mora com os pais, que fazem 78 e 80 anos em 2020, no centro da cidade de Jerusalém. Eles são do grupo de risco, logo, mais um motivo para obedecer a quarentena. Os passeios se restringiram aos 500 metros de distanciamento de casa permitidos para fazer exercício físico.

“Eu sou solitária por natureza, então as restrições de isolamento não são tão incômodas para mim”, explica. “Neste período, virei instrutora de alongamento dos meus pais, jardineira (eles têm uma varanda com plantas), personal organizer (consegui que doassem metade das coisas acumuladas que não servem para nada e arrumar o que sobrou de modo mais racional), comecei a estudar hebraico com minha mãe (o que não durou muito)”, brinca. “De resto, a rotina normal de arrumação da casa, cozinhar, filmes juntos e tempo individual”.

Na segunda quinzena de março, os israelenses não podiam mais deixar suas casas, a menos que fosse absolutamente necessário, e estabelecimentos foram fechados (imagem: Ilana Goldsmid)

 Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do site About Light.

Veja também