Editor do blog About Light, Cassiano Viana tem conversado com fotógrafos residentes em diversos países sobre os impactos, as transformações e o cotidiano durante a crise mundial da covid-19. “Não é sobre técnica ou sobre o ato de fotografar em si. É muito mais uma correspondência com pessoas de diferentes realidades e que têm o olhar, a observação e o registro através de imagens como meio de expressão e forma de materializar os sentimentos nestes tempos de isolamento”, explica Viana.

Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 3
Douglas Pingituro – Berlim, Alemanha
A disciplina germânica em tempos de pandemia

por Cassiano Viana

A Alemanha confirmou o primeiro caso de covid-19 no dia 27 de janeiro. Naquele momento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passava a classificar como elevado o risco internacional de contaminação pelo coronavírus, em uma correção da avaliação feita uma semana antes: em comunicado, a organização informava que, por um erro de formulação, havia apontado o risco como moderado.

Veja também:
>>
Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 1: China
>>Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 2: França

"Eu já estava acompanhando as notícias relacionadas à covid-19 pelo que vinha acontecendo na Itália, pelo fato de minha namorada ser italiana e ter família lá", conta o fotógrafo brasileiro Douglas Pingituro, que há três anos mora em Berlim. "A situação não me assustou a princípio, mas em março tudo fechou por aqui, então bateu uma certa preocupação", lembra.

A Alemanha confirmou o primeiro caso de covid-19 no dia 27 de janeiro (imagem: Douglas Pingituro)

Com o início das restrições para conter a pandemia, foram fechados teatros, clubes, casas de shows e boa parte do comércio. Foram proibidas ainda viagens de longa distância. Uma semana depois fecharam-se os bares e os restaurantes, que, na verdade, já não tinham mais clientes e turistas. Naquele momento, as fronteiras na Alemanha já estavam sendo bloqueadas.

"Precisamos de medidas drásticas", afirmava Angela Merkel, pedindo disciplina aos alemães e enfatizando que a medida mais eficiente contra o vírus era aumentar a distância entre as pessoas. Logo, permanecer em casa. Os alemães seguiram à risca os pedidos da primeira-ministra.

"Acho que não apertaram as leis de isolamento porque a população respeitou", avalia Douglas. "Foi importante as pessoas ficarem em casa, e as que foram às ruas sempre tentaram se proteger. O governo alemão preparou 25 mil leitos, e temos hoje apenas 6 mil leitos ocupados", reflete.

Nos últimos dias de abril, a Alemanha tinha o quinto maior número de casos de covid-19 no mundo, atrás de Estados Unidos, Espanha, Itália e França (imagem: Douglas Pingituro)

Nos últimos dias de abril, a Alemanha tinha o quinto maior número de casos de covid-19 no mundo, atrás de Estados Unidos, Espanha, Itália e França. O país apresentava um ritmo decrescente de casos de contaminação pelo coronavírus e um número maior de pessoas recuperadas do que infectadas. Ainda assim, Angela Merkel voltou a pedir prudência e disciplina aos alemães, afirmando que a pandemia ainda estaria no início.

 "O tempo ficou quente e limpo. Ninguém aguentava mais o inverno, então as pessoas começaram a sair às ruas, para caminhar e ir ao parque", conta Douglas. "A polícia ainda não deixa que fiquem mais do que duas pessoas juntas e, se estiverem em um parque, precisam ficar a no mínimo 5 metros uma da outra. E todos nas ruas estão tendo cuidados básicos: máscaras, álcool gel, alguns com luvas, evita-se ficar perto uns dos outros."

"A situação não me assustou a princípio, mas em março tudo fechou por aqui, então bateu uma certa preocupação", lembra Douglas Pingituro, fotógrafo brasileiro que mora há três anos em Berlim (imagem: Douglas Pingituro)

Quanto à crise no Brasil, o fotógrafo admite estar bem preocupado. "Minha mãe é do grupo de risco. Tento passar para ela a realidade da Europa, para convencê-la de que é muito sério o que estamos vivendo", conta. "Todos os países que subestimaram o vírus sofreram grandes perdas."

Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do site About Light.

Veja também
Mulher de meia idade está sentada em um vagão de metrô vazio. Ela usa máscara.

Pandemia de coronavírus, um ano depois

Em um ano, aqui no site do Itaú Cultural, refletimos sobre os impactos da pandemia no setor cultural e demos vozes e palco virtual a artistas de várias áreas