por Cassiano Viana

Minne Santos (Maceió, Alagoas, 1994) define como ponto de partida na fotografia um desafio enorme, porque esbarra em algo que, segundo ela, tem pouco: a memória.

“Acredito, inclusive, que esse seja um dos maiores fatores que me fazem ser tão apegada a registrar as coisas”, diz. “A fotografia é muito do que sou, é muito o que, hoje, me lembra de estar presente, atenta às coisas, às pessoas, aos sentimentos, às cores que me rodeiam e também ao que está para além do que conscientemente percebo. É meu espaço de criação, de liberdade, de descoberta. Fotografando, consigo ser mais eu e ao mesmo tempo, principalmente pelo autorretrato, vou sendo muitos outros”, explica.

“Me motiva ocupar, sem inseguranças, esse espaço que fui construindo para mim e reforçar a importância de que as outras mulheres também o façam. A fotografia é boa parte do meu trabalho e estar nela quando os homens ainda são muito mais facilmente lidos como profissionais na área é político”, reforça Minne, que é uma das organizadoras do Punho!, coletivo alagoano de mulheres da imagem.

“Também me motiva continuar a fotografar ao lado de outras mulheres, a desconstruir a universalização do que é ser mulher e contribuir, como eu puder, para uma cena local mais favorável a cada uma de nós e às que ainda estão por vir.”

Com a palavra, Minne Santos:

Clausus evoca minha relação com a casa durante os primeiros momentos de isolamento social. É um retrato que desenha bem o quanto aquele período me atravessou e deu outros contornos para o ambiente que sempre foi o meu preferido de estar.

Das Coisas do Ralo é uma série que fiz durante uma mudança, num período conturbado. Tínhamos esvaziado o apartamento em que morávamos e, enquanto ainda podia, voltei para fotografar. Foi um último apego, um jeito de me espalhar mais por lá, como se não tivesse tido tempo suficiente, uma maneira de deixar um pouco de mim naquele espaço e de trazer ele comigo.

Obli é sobre trazer à luz as coisas que são nosso ponto de encontro com a sombra, aquelas que preferimos manter escondidas. É celebrar essas relações, entendê-las como processo.

Nebulosa é uma das muitas séries que faço com espelhos, numa tentativa de fotografar um pouco do meu processo criativo, do trabalho com a luz, a imagem e o mistério.

Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do site About Light.

Veja também

Fotografia Modernista Brasileira, exposição virtual do Itaú Cultural, pode ser vista no Google Arts & Culture

Recorte virtual disponibiliza 70 obras de fotografias modernistas do acervo do Itaú Cultural

Em fotografia: A janela como frame

Ensaios premiados pelo edital Arte Como Respiro mostram como olhar pela janela pode ser feito de forma diferente do cotidiano