Por Cassiano Viana*

Daniela Curvelo (Salvador, Bahia, 1989) nasceu no famoso bairro do Rio Vermelho. “O dia do meu nascimento foi registrado por minha madrinha fotógrafa, acredito que não por acaso. Esse foi meu primeiro contato com a fotografia”, conta. “Desde que tenho conhecimento das minhas memórias, essas imagens sempre me atravessaram profundamente e ajudaram nas construções narrativas dos traços familiares”, diz.

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Daniela começou a fotografar “como uma brincadeira” aos 21 anos, quando comprou a primeira câmera, daquelas compactas para registrar momentos do cotidiano. “Não tenho memória da primeira foto, mas a natureza, o banal, a luz natural e as pessoas em seu modo mais espontâneo sempre foram o meu foco”.

(imagem: Daniela Curvelo)

Com a palavra, Daniela Curvelo:

A fotografia é um instrumento que me permite fazer imersões em novos territórios que sempre existiram, porém cheios de camadas que camuflam a visão comum. A energia que me movimenta consiste em penetrar neste mundo oculto que vibra e pulsa em seu próprio ritmo. Faço viagens muitas vezes sobrenaturais, mas que carregam a simplicidade realista do cotidiano, como um diário imaginado/criado/mágico da minha própria vida. Trata-se, portanto, de um modo de introspecção, do encontro e do desencontro com as várias versões do próprio eu.

(imagem: Daniela Curvelo)

Trafego entre os tempos, entre o ancestral e o contemporâneo, entre o feminino e o masculino, entre a natureza e a cidade, o real e o ficcional.

A imagem é produto do meu processo de transformação, dos dilemas existenciais da vida, onde o ponto de partida são as mudanças, a transitoriedade. O ensaio Curar, por exemplo, perpassa pelas descobertas da mulher que introduz no seu ciclo o uso do coletor menstrual, modificando por completo a forma de se relacionar com o próprio corpo e com a natureza.

(imagem: Daniela Curvelo)

A série Porque o Espelho Nem Sempre Reflete perpassa pelos sentimentos de uma pessoa em desordem, tal qual uma casa sem base que precisa ser reestruturada. A dualidade intrínseca das emoções se faz visível em rachaduras que a todo momento pedem por conserto. Em uma miscelânea de ansiedade e paz; comparação e aceitação; insegurança e confiança; fracasso e êxito; amor e desamor, vai-se girando a roda da vida através do encontro e do desencontro do próprio eu.

(imagem: Daniela Curvelo)

Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do site About Light.

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