Qual é a história de sua maior saudade?

Nunca fui saudosista, sempre botei fé no verso do grande mestre Gilberto Gil: “O melhor lugar do mundo é aqui e agora”. Mas a pandemia colocou essa máxima em xeque, ainda mais estando no Brasil... Hoje tenho saudade de tanta coisa, mas principalmente do tempo em que a gente tinha esperança de uma vida melhor, um país melhor, quando a cultura, a saúde e a educação estavam em ascensão, e não o contrário.

O que a emociona em seu dia a dia?

Uma flor que desabrocha. Uma nova descoberta feita pelas crianças, que crescem, que nos emocionam com a expressão de seu amor genuíno. Sentir o acolhimento da rede de força feminina em que vivo: mulheres criando, superando, perseverando, vencendo, apesar dos obstáculos, apesar do machismo e do patriarcado nosso de cada dia.  

Como você se imagina no amanhã?

“Sobreviver pra te abraçar”, verso do poeta arrudA que transformei em música recentemente, é o que me vem à cabeça no momento. Um dia de cada vez, para não pirar na ansiedade de um futuro inalcançável.

Quem é Iara Rennó?

Uma antena, um corpo sensível sempre buscando a arte para expressar meu desencaixe no mundo, para ultrapassar as limitações sociais impostas a este corpo-voz feminina que não se cala, grita e sangra, de identidade difusa, origem confusa, ainda não velha, já não moça. Hoje, mais do que nunca, mas desde criança, sinto que me falta espaço, sensação de um não lugar. Por isso um canto, uma dança, uma poesia, algo que coça por dentro e me impele a me jogar de novo, buscando diferentes combinações. Inquietude artística, dizem. Sentir tudo tanto não faz a vida tranquila, mas sei que não estou só nisto. Então, se tenho voz, ecoar é missão. Vento, poeira, tempestade, transformação, renovação e a busca eterna pelo aprimoramento nesta breve existência, a cada dia.

Mulher aparece de lado com um galho na boca. Ela usa calcinha dourada e uma blusa de alça e cor clara. Seus cabelos são crespos, curtos e grisalhos.
Iara Rennó: saudade de um tempo em que a gente tinha esperança de uma vida melhor (imagem: José de Holanda)


Em Um certo alguém, coluna mantida pela redação do Itaú Cultural (IC), artistas e agentes de diferentes áreas de expressão são convidados a compartilhar pensamentos e desejos sobre tempos passados, presentes e futuros.

 

Os textos dos entrevistados são autorais e não refletem as opiniões institucionais.

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