Gihan Tubbeh: de tempos em tempos um vulcão entra em erupção
06/08/2019 - 09:00
por Cassiano Viana
Jorge Villacorta, importante crítico de arte e curador peruano, afirma que De Tiempo en Tiempo, un Volcán Estalla, de Gihan Tubbeh – artista presente na coletiva Ainda Há Noite, em cartaz no Itaú Cultural –, é a tentativa de recomposição de um mundo esfacelado.
Para Villacorta, a crise que hoje solapa a integridade do ser humano, independentemente de gênero, exige uma resposta à ação predatória e destrutiva do homem sobre a natureza. "A ausência de Eros – o princípio da vida e do prazer – e a entronização de Thanatos – o princípio da morte, continuam a marcar o horizonte do novo século", escreve o crítico no texto de apresentação da série de fotografias de Gihan, publicada em livro no ano passado. "A natureza, no trabalho de Tubbeh, fala como uma erupção do ser", destaca Villacorta.
"Na fase inicial do trabalho, pensava no ciclo menstrual e na violência, entre aspas, da gravidez para o corpo da mulher, em uma leitura poética da condição feminina no universo", explica Gihan, que aos 25 anos foi selecionada para o Joop Swart Masterclass, promovido pela fundação World Press Photo, e hoje acumula importantes prêmios internacionais de fotografia.
"O projeto se chamou Luna Roja por anos, até 2018", conta. "Quando comecei a pensar no livro, percebi que o conteúdo que eu havia produzido não traduzia plenamente as minhas ideias. Eu não queria tratar meramente de gêneros ou da mulher; queria algo maior, queria falar da sabedoria que nos antecede, sobre ancestralidade, sobre a magia e sobre os mistérios do mundo."
"Era agosto e eu estava na Argentina, andando a cavalo e pensando onde, no mundo, eu poderia ficar paralisada pelo mistério da criação, em um daqueles momentos-chave em que a beleza e o horror geralmente me inspiram. Foi quando me veio a imagem de vulcões em erupção", lembra.
Deus é islandês
Gihan conta que no mesmo dia comprou uma passagem para a Islândia. Puro impulso e intuição. "Na semana seguinte cheguei à Islândia, e o projeto mudou completamente. Naquele território de sonho, onde a terra fala, não há um quilômetro sem que haja algo que me faça parar o carro e contemplar ou entrar em estado de transe", diz. "Sim, Deus existe e é islandês", brinca a peruana.
"Aos poucos fui ampliando essa visão para algo mais universal, pensando na natureza que todos nós temos como animais, combinando imagens, associando signos aparentemente incompatíveis, mas que muitas vezes revelam verdades e novos sentidos", relata.
E, sim, Gihan concorda que, como dizem, a mulher é um vulcão. "Mas um vulcão como a Mãe Terra, em sua capacidade de acolher e explodir. Sempre me interessou como os opostos convivem: a capacidade de criar e destruir, o poder e a fragilidade, a violência e a ternura", explica.
O título da série, De Tiempo en Tiempo, un Volcán Estalla, em exibição até o dia 11 de agosto no Itaú Cultural, em São Paulo (SP), não poderia ser mais apropriado, já que o processo de erupção dos vulcões – geralmente associado à destruição e à morte – acaba por originar a formação de um novo tipo de solo, muito mais fértil que o anterior.
Os próprios continentes do planeta surgiram da atividade vulcânica, a partir do magma de um vulcão, esse deus secreto da criação e da fertilidade. Além disso, o Peru, onde nasceu Gihan, é considerado a terra dos vulcões na América Latina.
Mas o título vem mesmo de um verso do poeta peruano César Moro (1903-1956). O poema se chama "Libertad-Igualdad":
"En vano los ojos se cansan de mirar
La divina pareja embarcada en la cópula
Boga interminable entre las ramas de la noche
De tiempo en tiempo un volcán estalla
Con cada gemido de la diosa
Bajo el tigre real"
Cassiano Viana é editor do blog About Light.