Dando continuidade à série Gestores Culturais em Foco, conversamos com Mannuela Ramos da Costa, professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Conhecida como Mannu Costa, ela é ex-aluna do curso de especialização em gestão e políticas culturais realizado pelo Itaú Cultural em parceria com a Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Cooperação, da Universidade de Girona, na Espanha. Desenvolve pesquisas na área de políticas públicas para o cinema no Brasil, além de lecionar disciplinas de produção audiovisual e de economia da cultura.

Mannu é também sócia da Plano 9 Produções e professora no curso de cinema e audiovisual da UFPE, com doutorado em comunicação realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Há mais de dez anos atua em uma variedade de funções no audiovisual: produtora, produtora-executiva, diretora de produção, assistente de produção etc. Participou do programa de residência artística e profissional Talents 2014, do Berlinale (Festival de Cinema de Berlim). Atualmente está envolvida na realização de quatro longas-metragens e duas séries de televisão. Entre as obras mais recentes, destacam-se Amores de Chumbo, de Tuca Siqueira, Xingu Cariri Caruaru Carioca, de Elizabeth Formaggini, Em Nome da América, de Fernando Weller, Eles Voltam, de Marcelo Lordello, e Maria Prestes, de Ludmila Curi.

Mannu Costa (Foto: Divulgação)

Qual é a importância de compartilhar com outros gestores as suas experiências na área cultural? Como você vê essa troca?

A prática da gestão no setor cultural é sempre um desafio, pois envolve não apenas valores tangíveis mas – sobretudo – valores intangíveis. É um setor no qual existe uma grande presença do capital humano e criativo, o que é nosso maior diferencial, mas também a razão de grande parte desses desafios. Além disso, essa é uma área sobre a qual os estudos e as reflexões são relativamente recentes se você a comparar a disciplinas mais tradicionais. Então, trocar experiências com outros gestores torna-se vital, uma grande fonte de conhecimento.

Qual é o maior desafio que um gestor/produtor cultural enfrenta hoje no Brasil?

Acho que é a instabilidade. Do ponto de vista das políticas públicas, que no Brasil têm alta influência – seja indiretamente, via leis de incentivo e editais, seja diretamente, realizando atividades e programas –, sofremos com a descontinuidade das ações e com eventuais mudanças na visão de Estado que cada governo adota. A cultura nem sempre é prioridade; ou a compreensão que se tem de cultura é diferente daquela que vinha sendo implementada. Do ponto de vista do investimento privado, seja pelo consumo familiar (demanda privada) ou pelos investimentos de empresas, a cultura deixa de ser priorizada sempre que qualquer instabilidade econômica aparece.

Em que consiste o trabalho do gestor/produtor cultural? Quais são as habilidades e as competências necessárias para que um gestor/produtor cultural tenha êxito em sua atuação?

Planejamento e disciplina – e, ao mesmo tempo, capacidade de se adaptar e de mudar de planos quando necessário. Além de muita persistência e resistência.

Como você avalia as políticas culturais praticadas na sua cidade?

Acho que já houve um momento na história recente da cidade em que a cultura passava por um planejamento estratégico integrado. Neste momento, creio que falta um pensamento transversal e, sobretudo, falta pensar um projeto que integre as pessoas à cidade, que as traga de volta ao espaço público de forma permanente. Temos muitos eventos sazonais, que inclusive são mundialmente reconhecidos como exemplos de políticas democráticas, como o Carnaval e o São João. Mas são sazonais. Cultura é dia a dia. Na minha concepção, só a práxis, no contato das pessoas com o mundo, na experiência, é que promove cultura e, daí, sociedades melhores. Em vários sentidos.

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