Classificação indicativa: Livre
 

Infância é quase sinônimo de energia. Muita energia. Corre para um lado, pergunta sobre tudo e todos, cai no chão e, em um triz, segue para o próximo pulo. Crianças são assim, irrequietas que só. Às vezes, porém, os pequenos perdem o fôlego, desaceleram. Tanta informação o tempo inteiro requer episódios de bonança, tranquilidade que serve de eixo para a oficina Robô Zen e para o espetáculo Tá na Hora de Dormir. A tarefa comandada pelo robô é obra do projeto Jiboia; já a apresentação musical é de responsabilidade do grupo Meia Dúzia de 3 ou 4. Ambas as propostas recuperam, por meio de um toque inventivo, um sossego próprio da idade pouca: aquele de quem enxerga o mundo com lente de aumento; aquele de quem vive um ano maior, com duração sem desgaste; aquele de quem ainda não está no poço da pressa.

Banda Meia Dúzia de 3 ou 4 no espetáculo Tá na Hora de Dormir | foto: Luís Simione

Liga, desliga, liga, desliga

Ana Laura Rodrigues, Gabriela Sacchetto, Rafael Versolato e Jonas Meirelles juntaram-se, há quatro anos, graças a um intuito: criar oficinas de férias para o público infantil. O encontro e o desejo fundiram-se e, dessa forma, surgiu o Jiboia. No início, armaram a feitura de máscaras de monstros. Depois do pontapé primeiro, vieram atividades focadas em livros, as quais renderam parcerias com editoras e livrarias. A leitura era posta ali como, entre outras qualidades, brincadeira. E este é o mastro do conjunto: a diversão.

Fiéis ao entretenimento da meninada, os companheiros estavam a apanhar ideias quando um álbum os tomou de encanto: Tá na Hora de Dormir (2016), disco-livro da trupe Meia Dúzia de 3 ou 4. “O título nos inspirou e nos fez dormir bem”, recorda Meirelles. Após um bom sono, o quarteto “jiboiano” pensou, mexeu uma linha aqui e outra lá, e logo viu: a figura do robô a brilhar, componente exato para realizações que se dão a partir de material de papelaria. Cartolinas, canetas, recorta e cola que podem virar um androide completo. Por que não? Ademais, a criatura em questão é elétrica, acesa – mas basta o aperto em um botão e o circuito apaga. O ritual é o que liga bicho de lata ao humano jovem: invenção e inventor aprendem juntos o valor do descanso. “Ficamos fascinados em notar os jeitos como as crianças resolvem seus desenhos, suas pinturas e seus brinquedos”, comenta Meirelles. Um muito de fantoches, dinossauros de pau, máscaras e, agora, robôs.

Ouça o silêncio

Para os desavisados, o imperativo ganha tons de contradição. Contudo, preste atenção: não há paradoxo nesse balaio. Ouvir o não som é um exercício precioso para se conhecer de modo contínuo, explorar as entrevias ao redor, puxar um quinhão de remanso para si. O contato com o silêncio é o mote de Tá na Hora de Dormir, uma compilação de textos e canções encomendada pela editora Bamboozinho aos integrantes do Meia Dúzia de 3 ou 4, banda formada por Lia Aroeira, Luisa Toller, Marcos Mesquita e Thiago Melo. Fada, vampira, skatista, bailarina e mais, personagens vários que se encontram no repouso.

O livro transformou-se em um show pelas mãos de Ana Souto (direção cênica) e Luiza Pannunzio (figurino e cenário). Sequência das músicas alterada, arranjos remodelados, espelho, janela e guarda-roupa no palco: estrutura pronta para receber a plateia mirim. O objetivo é claro: ser um respiro manso em um universo repleto de vai e vem de dados, estímulos, rapidez tamanha, ansiedade até. “É importante desanuviar. No espetáculo, a criançada entende os diferentes momentos e os respeita: quando é para interagir, quando é para se aquietar”, diz Melo. Além da mudez, existe entender para o não entender: “Na história do bicho-papão, que vira bonzinho babão, incorporo o dito cujo e finjo falar uma língua ininteligível. Na canção do pirata, há também essa linguagem outra, criada”, conta Melo. No fim, entre silêncios, esforços de compreensão e risadas, os pequenos identificam-se com um universo em que é possível achar inúmeras horas, inclusive a reservada para dormir. 

Banda Meia Dúzia de 3 ou 4 no espetáculo Tá na Hora de Dormir | foto: Luís Simione

Como de costume, o Fim de Semana em Família traz ainda o Cantinho da Leitura, que neste mês de junho homenageia a autora de literatura infantojuvenil Tatiana Belinky. No espaço os visitantes têm acesso à Feirinha de Troca, na qual a criançada pode trocar um livro, um gibi ou um DVD em bom estado por outro da nossa estante, e a uma seleção de publicações infantojuvenis. Neste mês, metade delas é da autora homenageada, com destaque para as obras Stanislau e O que Eu Quero. As atividades acontecem no piso térreo do Itaú Cultural, das 11h às 16h30.

Oficina Robô Zen [com interpretação em Libras]
sábado 23 e domingo 24 de junho de 2018
às 14h
[duração aproximada: 90 minutos]
Espaço Educativo (piso 1º subsolo) – 20 crianças com um acompanhante cada uma
[inscrições a partir das 13h30]

Espetáculo Tá Na Hora de Dormir [com interpretação em Libras]
sábado 23 e domingo 24 de junho de 2018
às 16h
[duração aproximada: 60 minutos]
Sala Itaú Cultural (224 lugares)
[distribuição de ingressos a partir das 14h]

Cantinho da Leitura e Feirinha de Troca
sábado 23 e domingo 24 de junho de 2018
das 11h às 16h30
piso térreo

Entrada gratuita

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