Está em cartaz na  Kunsthal KAdE, na cidade de Amersfoort, na Holanda, a exposição Mapping Brasil. A mostra apresenta documentos produzidos a partir do século XVII, durante o período da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro – onde Maurício de Nassau esteve à frente como governador entre 1637 e 1644 –, e conta com vídeos com imagens de obras que fazem parte do acervo da coleção Brasiliana Itaú. Os vídeos foram realizados pela equipe do Itaú Cultural.

Entre as peças em exibição disponibilizadas pelo Itaú Cultural para Mapping Brasil, destaca-se a animação com a reconstituição virtual do Palácio de Friburgo (ou Palácio de Nassau) – com pinturas em seu interior de autoria de Albert Eckhout e Frans Post –, erguido em 1642 no Recife (PE), como residência de Maurício de Nassau. Também se destacam vídeos com imagens de páginas de edições raras de livros, mapas, gravuras e pinturas do Brasil do século XVII ao XIX.

A curadora da exposição, Nynke Besemer, tomou conhecimento dos materiais que fazem parte da Brasiliana Itaú depois que Robbert Roos e Judith van Meeuwen (respectivamente, diretor e curadora da Kunsthal KAdE, instituição parceira do Museu Flehite nesse evento) visitaram o Brasil nas pesquisas para a exposição de arte contemporânea Soft Power.ArteBrasil (mais informações abaixo). “Durante uma dessas viagens, eles visitaram o Espaço Olavo Setubal e ficaram impressionados”, explica Nynke. “Apreciaram a riqueza da coleção e consideraram que os vídeos eram bastante educativos e uma boa maneira de os visitantes espiarem os livros sem precisar abri-los.”

Mapping Brasil busca uma ampla visão da representação do Brasil e de como os europeus daquela época enxergavam o país, registrando tudo aquilo que consideravam relevante. “Nós selecionamos materiais de holandeses e de outros europeus, durante os séculos XVII a XIX, de coleções públicas da Holanda”, explica a curadora. “Para complementar essas fontes, incluímos versões animadas das pinturas e dos livros e a animação da reconstrução do Palácio de Nassau da Brasiliana”, conta. “Essas animações são uma complementação perfeita, porque algumas delas contêm livros que nós não podemos exibir. E a reconstrução apresenta uma linda imagem de algo que nós não poderíamos mostrar de outra forma – o palácio, mas também pinturas de Albert Eckhout e Frans Post. Algumas dessas pinturas desapareceram.”

Maurício de Nassau estimulou as artes e a ciência, revelando o Brasil para a Europa no século XVII. Convidou artistas e especialistas para se juntar a ele no intuito de registrar e relatar o país daquela época. Até hoje essas são fontes valiosas para o estudo da nossa história. “Entre 1630 e 1654, a Holanda controlou uma vasta área do Nordeste brasileiro, com o Recife como sua base de poder e o príncipe Maurício como governador da colônia”, conta Nynke. “Ele trouxe um time de artistas holandeses [Frans Post e Albert Eckhout], cientistas [o astrônomo Georg Markgraf e o médico Willem Piso], cartógrafos e botânicos para mapear a paisagem, a população, a flora e a fauna, batalhas, doenças tropicais e a cultura local.”

Perguntada se, de certa forma, a exposição também deve revelar – assim como fez Nassau em seu tempo – um pouco mais sobre o Brasil, sua história e sua relação com os holandeses ao público visitante, Nynke responde que certamente sim. “Eu me pergunto quantas pessoas aqui [na Holanda] estão cientes da história da Holanda no Brasil e, especialmente, do mapeamento do Brasil pelos holandeses e por outros europeus”, diz a curadora.

A arte brasileira na Holanda

Mapping Brasil é parte da exposição Soft Power.Arte Brasil, mostra de arte contemporânea brasileira também em exibição na Kunsthal KAdE. Paralelos e complementares, os eventos fornecem ao visitante a possibilidade de compreender tanto a arte contemporânea brasileira quanto o contexto histórico que ajudou a criá-la.

“Nós esperamos que Mapping Brasil possa fornecer um contexto histórico para a arte contemporânea”, diz Nynke. “Algumas das obras se referem à história do Brasil de forma mais literal [...] Outras também se referem à história e à cultura do país, mas de forma mais sutil. Conhecer mais a história pode ajudar a entender ou a apreciar tais trabalhos. Ao mesmo tempo, obras contemporâneas podem levantar questões sobre a história e a cultura do Brasil.”

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