O antropólogo Nestor Garcia Canclini, no artigo Imaginários culturais da cidade, publicado no livro A Cultura Pela Cidade, comenta: “Não atuamos na cidade só pela orientação que nos dão os mapas ou o GPS, mas também pelas cartografias mentais e emocionais que variam segundo os modos pessoais de experimentar as interações sociais”. É nesse sentido que caminham os trabalhos expostos na mostra Cidade Gráfica, nos quais, de acordo com os curadores Celso Longo, Daniel Trench e Elaine Ramos, “os sentidos de apropriação e memória estão muito presentes: no primeiro, intervenções tomam o espaço público se valendo de estratégias de comunicação e suportes existentes; no segundo, pesquisas resgatam a história de elementos gráficos urbanos".

Para eles, diante da realidade das cidades do século XXI, em especial as brasileiras, que se desenvolvem às margens do crescimento urbano, o design gráfico, entendido pelo viés da comunicação, “tem o duplo papel de informar os cidadãos e, ao mesmo tempo, questionar determinadas realidades – como as forças do capital neoliberal que desenham as cidades em favor de interesses privados, ou mesmo a inoperância do poder público frente a questões ligadas ao bem-estar coletivo”.

Os trabalhos selecionados jogam luz sobre questões que estão latentes na sociedade e que exigem algum tipo de resposta, e a equipe curatorial considera que diversos trabalhos presentes na exposição já trazem exemplos muito contundentes de propostas que indicam um possível diálogo com o poder público, ou mesmo com a sociedade civil de forma organizada, contribuindo para o enfrentamento de conflitos que possam melhorar a convivência e a qualidade de vida nas cidades. “Nossa ideia é que tais trabalhos estimulem o surgimento de outras tantas — ou seja, que o designer saia do sedentarismo e da prática voltada ao mercado e atue de modo mais propositivo, político e reflexivo na sociedade”.

Para a equipe, design e cidade estão intimamente ligados, uma vez que “tanto o design como a cidade são entidades mediadoras”, e essa relação estaria exemplificada em diversas obras da mostra, dentre as quais se destaca o cartaz/estêncil  de Victor Cesar "Sempre Algo Entre Nós". E concluem: “na exposição, o gráfico (presente no design, na fotografia, no cinema, nas artes plásticas etc) tem sempre a cidade como tema ou como suporte.”

A exposição permanece no Itaú Cultural, em São Paulo, até 4 de janeiro de 2015 

Saiba mais sobre a escolha dos trabalhos e a temática da Cidade Gráfica nesta entrevista com os curadores e os arquitetos responsáveis.