por Zema Ribeiro

 

Com Tungstênio (Veneta, 2014, 186 páginas), Marcello Quintanilha venceu em 2016 o prêmio Polar de Melhor História Policial no Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, na França, o mais prestigiado desse gênero no mundo, e sagrou-se definitivamente um dos mais importantes nomes da nona arte na atualidade.

Radicado há 15 anos em Barcelona, passou recentemente pelo Brasil, ocasião em que lançou Todos os Santos (Veneta, 2018, 112 páginas) e participou de sessões de pré-estreia da adaptação de Tungstênio para o cinema (drama, 2018, Brasil, 80 minutos), por Heitor Dhalia – responsável pela versão cinematográfica de O Cheiro do Ralo, romance de Lourenço Mutarelli.

O filme é bastante fiel ao quadrinho, e o próprio Quintanilha integra o time de roteiristas (ao lado de Fernando Bonassi e Marçal Aquino). Mas, para não fugir de um clichê, a narrativa da HQ já era, por si mesma, bastante cinematográfica. “Ter o Quintanilha na nossa equipe de roteiristas foi um facilitador, uma honra, um luxo pra gente, tê-lo no processo de roteiro, e também um pouco na filmagem, mas eu acho que a fidelidade, a busca por ela, se deve a uma decisão conceitual de tentar nos aproximar o máximo possível da obra de origem”, comemora o diretor Dhalia.

Sobre o processo de adaptação, Quintanilha comenta: “A principal preocupação de todas as pessoas envolvidas no roteiro foi encontrar a melhor maneira de traduzir o que era relatado no quadrinho pro espectador. Acho que o quadrinho foi uma grande base pra esse trabalho de tradução. Eu particularmente estou muito satisfeito com a forma com que isso foi feito”.

“Tudo foi muito direto e muito objetivo desde o começo. Eu já conhecia o trabalho do Heitor e já o admirava muito. Quando ele me propôs trabalhar na adaptação eu achei fantástico, e uma semana depois já tínhamos tudo concretizado, já tínhamos começado a trabalhar na adaptação. Foi um processo relativamente simples, na verdade”, continua o autor.

Parecerá realmente um trabalho fácil para quem vir o filme tendo lido a graphic novel, ainda mais quando há atuações vigorosas de Fabrício Boliveira (o policial Richard), José Dumont (o militar reformado Ney), Samira Carvalho (Keira, esposa de Richard) e Wesley Guimarães (o pequeno traficante Caju), cujas histórias se cruzam a partir da denúncia de um crime ambiental: a pesca com bombas no litoral soteropolitano. O filme é narrado por Milhem Cortaz.

Tungstênio é um drama típico das periferias brasileiras, mas não só, onde a criminalidade convive com as autoridades. Autor de traço e texto, Quintanilha tem uma sofisticação que o torna único nesse universo. É uma história sobre violência policial, delação e relacionamentos abusivos, mas também sobre amor.

“A violência é um tema seminal do Brasil, um país que vive em guerra civil, não se dá conta disso e faz de conta que ela não está acontecendo. A gente vê, por exemplo, o Rio de Janeiro hoje. O Tungstênio é uma tradução do Brasil de 2018, ele toca em questões muito relevantes do nosso tempo. Por exemplo, esse acúmulo de tensões sociais, o esgarçamento da malha social, que tem levado a uma polarização política muito grande”, aponta Dhalia. “O filme aborda também questões como o saudosismo da intervenção militar. Quando a gente filmou era uma ironia, uma sátira, e tristemente isso parece se tornar o sentimento de uma parcela grande da população.”

Tungstênio entra em cartaz no dia 21 de junho. Confira o trailer:

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