por Encontro com Espectadores – Maria Eugênia de Menezes

 

A discussão em torno do espetáculo Epidemia Prata – tema do 21o Encontro com o Espectador, ocorrido em 24 de junho – extrapolou os limites da criação artística. Como tem se mostrado comum em todos os debates promovidos pelo site Teatrojornal – Leituras de Cena, com o apoio do Itaú Cultural, a produção teatral paulistana debruça-se com cada vez mais ímpeto sobre questões da cidade. Por vezes, são disfunções urbanas e sociais que apenas começam a ganhar corpo, mas já foram captadas e equacionadas, de uma maneira ou de outra, pelos artistas e por suas companhias.

Quinta obra da Cia. Mungunzá de Teatro, Epidemia Prata reflete um momento particularmente frutífero – mas também angustiante – desse coletivo de artistas que se lançou em 2008, com o trabalho Por que a Criança Cozinha na Polenta. Há pouco mais de um ano, o grupo instalou sua sede, o Teatro de Contêiner, em uma área degradada no centro da cidade de São Paulo, conhecida como Cracolândia. Mas a mudança para o espaço não significou apenas a aquisição de uma sede. Também impactou decisivamente o rumo do processo criativo do coletivo e se tornou campo de investigação para a construção de Epidemia Prata

Foto: Letícia Godoy

Inspirados pelos meninos que se pintam de tinta prateada para pedir esmola, os integrantes da Mungunzá conceberam uma dramaturgia que passeia por duas linhas narrativas: a visão dos atores a respeito de sua convivência com o público do entorno – formado em grande parte por moradores de rua – e o mito de Medusa, que trata justamente da transformação do humano em estátua.

Responsável pela condução deste Encontro com o Espectador, o crítico Valmir Santos propôs ao ator Marcos Felipe e à diretora Georgette Fadel uma reflexão sobre o retrato desencantado da realidade oferecido pela produção. “Epidemia Prata nos trouxe essa dureza e uma ausência de respostas. Fico triste em entregar um trabalho tão pessimista”, disse Marcos Felipe em sua análise.

Para a diretora, o fracasso de todas as políticas públicas em resolver a questão não permitia ao grupo outra abordagem que não essa, sob o risco de perder-se em ilusões autoindulgentes. “Seria burro imaginar que haja esperança nesse quadro. Sou pessimista em relação ao sistema, não em relação ao ser humano.”

Na discussão dessa obra, em que parece impossível dissociar elementos estéticos de problemáticas sociais, artistas e crítico perpassaram obrigatoriamente questões de macro e micropolítica, ressaltando os impasses vivenciados pelos integrantes do grupo em sua maneira de se apropriar de um conteúdo vivo e em constante transformação.   

Em sua próxima edição, que ocorre no dia 29 de julho, o Encontro com o Espectador discute o espetáculo Pi – Panorâmica Insana, com a presença da diretora Bia Lessa e da atriz Claudia Abreu. Excepcionalmente, a conversa terá início às 14h30.  

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