por Cassiano Viana*

Ainda Há Noite é o tema do V Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo. Uma provocação importantíssima se levarmos em consideração o cenário político e social que se instala no mundo.

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“Ainda há noite, pois ainda há esperança, pois ainda temos energia e muita”, afirma Iatã Cannabrava, coordenador-geral do evento, junto com o curador e fotógrafo catalão Claudi Carreras e com o Itaú Cultural. “Não queremos com isso propor levantes. Não é disso que estamos falando. Quando pensei no tema, não imaginava que isso poderia acontecer”, explica. “Mas não dá para achar que fazemos fóruns de fotografia para discutir apenas fotografia. Fazemos fóruns para discutir também saídas para os impasses que o mundo contemporâneo coloca diante da gente”, completa Iatã.

Para ele, a intenção é fuçar, entrar de cabeça na noite para achar lá dentro, no profundo dela, soluções de outros tipos. Enxergar de noite aquilo que não se está conseguindo enxergar de dia.

“Se não estamos conseguindo enxergar as saídas de dia, vamos procura-las à noite”, brinca Iatã. “A gente quer aprofundar nossa capacidade de encontrar saídas, saídas autônomas, saídas criativas, saídas divertidas para caminhos errados que podem se vislumbrar pela frente”, explica.

Iatã lembra que boa parte da cultura latino-americana, do caráter latino-americano, para o bem ou para o mal, está relacionada à noite. “Os encontros, a música, a boemia, os latin lovers, as festas latinas etc.”, afirma, mencionado uma invenção criativa do cinema, a noite americana, técnica utilizada para simular um efeito noturno numa imagem filmada durante o dia.

Ainda Há Noite será o tema do V Fórum Latino-Americano de Fotografia (imagem: frame de vídeo)

“Da mesma forma, queremos inventar uma técnica e uma paixão em que a fotografia substitua um pouco o medo e a falta de esperança, já que esses momentos mais difíceis nos carregam às vezes de energias não muito boas”, conclui.

A exposição deste ano reunirá fotógrafos que já têm uma trajetória consolidada e fotógrafos que pela primeira vez participam de uma mostra internacional fora de seus países.

“A proposta que fizemos aos criadores – e que faremos aos expectadores – é pensar a noite como um instante de reflexão”, explica Claudi Carreras. “A noite, em sua intimidade, seus sonhos, pesadelos e desejos, é um espaço para pensar o dia, o que se fez ou deixou de fazer. Ou seja: temos a noite para repensar o dia, falar com nossos fantasmas, entender nossos medos. Temos a noite para tentar mudar o dia seguinte”, diz.

“Não é simplesmente entrar na escuridão. Tem a ver com esperança, com algo propositivo, construção de propostas e saídas”.

 

*Cassiano Viana é jornalista e editor do blog About Light.

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